terça-feira, 19 de outubro de 2010

Conversa com... Rita Latas

“Muitos dizem que é uma parvoíce as pessoas correrem atrás de uma bola. Para mim, é uma paixão.”

Rita Latas, começou a jogar futebol aos 11 anos e diz só tencionar “parar quando as pernas não o permitirem mais”. É universal na sua equipa de futsal e joga a médio no futebol de 11. Este desporto é mesmo um “amor incondicional na minha vida e representar o meu país é o meu grande objectivo. O céu é o limite”, concluí.

1. Nasceu em Sintra em 1993, desde os 11 anos que joga futebol. Como se deu o primeiro contacto entre si e o futebol?
Rita Latas: Desde sempre que quis jogar futebol mas as oportunidades no Distrito onde vivo eram poucas. Comecei por jogar na Escola Primária com os amigos e depois, através do pai de um amigo meu (ao qual devo muito até hoje), aos 11 anos ingressei nas escolinhas do Clube Lusitano Ginásio Clube onde permaneci até aos 13 anos, tendo jogado dois anos em campeonato masculino.

2. Como referiu anteriormente começo a jogar integrada numa equipa masculina. Com apenas 13 anos viu-se obrigada a desistir. Foi nessa altura que começou no futsal no Juventude. É ainda o clube que representa?
Rita Latas: Foi uma situação um pouco complicada para mim visto que sempre preferi futebol a futsal. Há muitas raparigas no nosso país que estão ou já estiveram na mesma situação que eu, pois quando estão integradas numa equipa masculina, aos 13 anos são obrigadas a deixar de jogar com rapazes por imposição das leis da UEFA. Sendo assim, e como não existe futebol feminino em Évora, foi nessa altura que deixei o futebol e me iniciei no futsal do Juventude Sport Clube onde continuo.

3. O que significa para si vestir essa camisola?
Rita Latas: O Juventude é um clube ao qual devo muito porque foi onde cresci como atleta e ser humano. Já ganhei alguns títulos com esta camisola e, mais importante, tenho um ambiente bom na equipa, tanto a nível das jogadoras como a nível do treinador Luís Papança que nos tem ajudado a crescer todos os anos cada vez mais. Foi também como jogadora do Juventude que fui primeiro observada pelo seleccionador do distrito de Évora e integrei os trabalhos da selecção distrital de futsal sub-19 e a selecção distrital de fut7 sub-17 e posteriormente pude ser observada por outras entidades nos torneios inter-associações.

4. Sente-se realizada no futsal?
Rita Latas: Sinto-me realizada no Juventude pois somos bi campeãs distritais, bi vencedoras da taça de Évora e já participamos duas vezes na Taça Nacional. No entanto, os apoios ao futsal feminino são ainda poucos. Mas a verdade é que a AFE (Associação de Futebol de Évora) tem feito um grande trabalho e um enorme esforço ao dinamizar e fazer crescer o futsal feminino no Distrito.

5. Há quem a caracteriza como um “caso sério de técnica e também de popularidade”. Como encara este elogio?
Rita Latas:O meu objectivo é melhorar o meu desempenho para contribuir cada vez mais para a equipa. É sempre bom ler ou ouvir esse tipo de elogios mas temos de assentar os pés na terra e saber ouvir tanto os elogios como as críticas.

6. Entre os dia 26 a 30 de Julho foi seleccionada por Mónica Jorge para um estágio de observação da selecção de Futebol 11 Sub/19 em Rio Maior. Como foi sentida por si essa chamada?
Rita Latas: Quando soube da chamada à selecção fiquei eufórica. Foi uma sensação única e vivida com muita felicidade, pois foi a consequência de que o nosso trabalho e o nosso empenho ao longo dos anos são reconhecidos, mais cedo ou mais tarde. Já o ansiava há muito tempo portanto foi um dos dias mais felizes que tive até hoje.

7. Pode-se mesmo dizer: “Rita Latas foi a jogadora do ano de Futsal e foi à selecção”?
Rita Latas: No final da época (2009/2010), na Gala de Futebol da AFE, pela primeira vez foi criado um prémio para a melhor jogadora de futsal feminino do distrito. Eu era uma das jogadoras nomeadas e ganhei… fiquei bastante feliz e teve muito significado, provando mais uma vez que há pessoas que reconhecem o nosso trabalho, empenho e dedicação. Logo a seguir fui chamada à selecção por isso foi uma época de grandes conquistas para mim.

8. Essa é uma experiência para nunca esquecer?
Rita Latas: Sem dúvida. Foram três semanas recheadas de momentos muito bons que partilhei com pessoas espectaculares que tive oportunidade de conhecer. Esta experiência permitiu-me aprender muito mais sobre a dificuldade do futebol ser jogado de maneira fluída, até porque como venho do futsal ainda não possuía a dinâmica que me permitisse jogar de forma plena. Ao longo dos treinos fui-me habituando e as coisas começaram a sair de forma mais natural. Foi uma experiência única que espero poder repetir.

9. Como é o ambiente vivido no seio da selecção feminina?
Rita Latas: É um bom ambiente. Temos de saber distinguir os momentos em que temos de trabalhar a sério dos momentos em que nos podemos divertir. E penso que nestes três estágios onde estive soubemos fazer essa distinção e criar um bom ambiente onde não houve complicações.

10. Sente que entre mulheres, a competição chega a ser maior que no mundo masculino?
Rita Latas: Numa selecção, tanto de homens como de mulheres, é óbvio que todo o trabalho é encarado de forma mais séria pois estamos com a vontade e responsabilidade de poder representar o nosso país em altas competições. Sinceramente, não me parece que haja uma grande diferença entre a competição vivida no seio masculino e a competição vivida no seio feminino. Naturalmente, todas estávamos nos estágios a lutar por um lugar na selecção mas, apesar de sabermos isso, o grupo manteve sempre uma postura positiva e unida. Falando por mim, fui vivendo cada dia do estágio de forma tranquila, tentando mostrar o meu futebol e crescer a cada treino. Infelizmente, não consegui ficar na selecção que vai participar no apuramento para o campeonato da Europa mas acredito que se algo nos tiver realmente destinado, vai acontecer, seja daqui a um mês ou daqui a um ano. Quero colocar em prática tudo o que tive oportunidade de aprender para crescer mais e espero que no futuro esteja melhor preparada para enfrentar o desafio da selecção.

11. E como caracteriza a Seleccionadora, Mónica Jorge?
Rita Latas: Gostei muito de trabalhar com a professora Mónica pois é uma pessoa exigente, com objectivos bem definidos e persistente, lutando todos os dias para dignificar o futebol feminino e para que esta modalidade possa ocupar o lugar merecido no desporto em Portugal.

12. Vê essa como uma oportunidade que em tempos pensou que não a conseguiria?
Rita Latas: Todos nós temos dias em que só nos apetece desistir, e eu não sou excepção. Já tive dias em que duvidei de todas as minhas capacidades e em que pensei que nunca conseguiria chegar à selecção. No entanto, tentei sempre focar-me no meu objectivo e continuei a acreditar que, um dia, eu estaria com as quinas ao peito.

13. Sempre temeu que as oportunidades podiam ser mais escassas, visto este ser um mundo composto mais por rapazes?
Rita Latas: Claro que sim. Tive sempre bem presente que a escalada não ia ser fácil, até porque na altura em que comecei a jogar futebol, as raparigas não eram bem vistas no futebol pelos rapazes. Mas fui conseguindo afirmar-me na equipa masculina e as oportunidades foram surgindo, mantendo ainda hoje boas amizades com os rapazes que foram da minha equipa e que me continuam a apoiar. Devo dizer que é muito importante sentir este apoio.

14. Para si como é ainda vista a mulher dentro das quatro linhas?
Rita Latas: A mulher continua a ser olhada no mundo do futebol com algum desagrado e como alguém que não sabe jogar futebol, sofrendo assim de alguma discriminação (se bem que a mentalidade das pessoas está a mudar). Felizmente, temos alguns exemplos femininos a nível mundial que conseguem contrariar essa ideia mostrando o seu valor enquanto atletas de futebol. Outro ponto que também é importante referir está relacionado com a imagem das jogadoras. Ao contrário do que toda a gente pensa e diz, o futebol feminino não é jogado por “Maria-rapazes”, mas sim por raparigas que gostam de futebol, e muitas delas bastante femininas. A pouco e pouco, penso que as pessoas vão começar a aperceber-se disso e as mentalidades vão mudar gradualmente.

15. Ainda há mentalidades retrógradas que a assustam?
Rita Latas: As mentalidades retrógradas vão existir sempre, seja em maioria ou em minoria. Mas como já disse, está a ser feito um trabalho para que essas mentalidades evoluam de modo a que as jogadoras não se sintam tão discriminadas.

16. E o mediatismo à sua volta… Com certeza a selecção trouxe-o… Como lida com ele?
Rita Latas: A ida à selecção não me trouxe um grande mediatismo até porque não foi um assunto do qual eu tivesse falado muito. Recebi mensagens de apoio de amigos, familiares e de pessoas que me têm acompanhado na minha evolução no futebol tais como os técnicos da AFE e da equipa que represento. As outras situações nas quais me abordaram sobre o assunto estiveram relacionadas com pessoas que viram a notícia e a minha foto no jornal distrital ou no blogue do clube, e me perguntaram se eu ia mesmo à selecção. Após os estágios, perguntavam-me como tinha corrido.

17. Representar a equipa das quinas foi algo que sempre sonhou?
Rita Latas: Representar a selecção nacional é um sonho que todas as raparigas e rapazes que jogam futebol federado em Portugal pretendem atingir e naturalmente é um objectivo que quis ver concretizado desde sempre e para o qual vou continuar a trabalhar. Não posso dizer que já o tenha atingido por completo, pois ainda não vesti a camisola de Portugal num jogo oficial. Vou continuar a desenvolver o meu trabalho com empenho para que esse dia possa chegar.

18. E a sua família como vê tudo isto que se passa à sua volta? Sempre a apoiou?
Rita Latas: Tenho muita sorte com a família que tenho porque sempre me apoiou, tanto na vida como no futebol. Quando vivo alegrias, eles vivem comigo. Quando sofro, também sofrem comigo. Os meus pais e o meu irmão acreditam tanto ou mais do que eu que conseguirei ir longe no meu sonho mas ajudam-me também a compreender que não posso viver num mundo de ilusões ao achar que posso fazer do futebol uma verdadeira profissão. Para isso, tento conjugar os estudos com o futebol e quem sabe, um dia, as coisas mudem e possa fazer do futebol a minha profissão durante alguns anos.

19. O que significa para si fazer rolar uma bola?
Rita Latas: Muitos dizem que é uma parvoíce as pessoas correrem atrás de uma bola. Para mim, é uma paixão.



Data: 19.10.2010

4 comentários:

  1. Parabéns o blogue está mesmo muito bom, podia era tentar variar o tema em vez de ser só de pessoas do mundo de futebol tentar abranger outros temas.. Beijinho!! Ana Pinto

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  2. Parabéns pela entrevista, acho que tiveste bem e o facto de referires que os teus pais te apoiam sempre é muito importante. Os nossos pais são a nossa base e sem eles nunca conseguiríamos voar bem alto... Surpeendeste-me, não esperava ler uma coisa tão...elaborada! Sabes que podes contar sempre com o meu apoio e que estou e vou estar sempre aqui!

    Qj's

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