terça-feira, 17 de agosto de 2010

Conversa com ... Joana Neto

“Cheguei mesmo a chorar quando vi a bandeira de Portugal a ser hasteada. Espero voltar a ter esta sensação, é inexplicável.”

Foi com apenas sete anos que conheceu e se entregou ao Voleibol. Recentemente, a nove de Agosto foi vice-campeã da Europa sub-18 na modalidade. Foi um êxito inédito em Portugal. Dá-lhe sempre um certo gozo chegar ao fim de qualquer partida e ter uma medalha ao peito. O perder para ela não a derrota, antes motiva-a… Depois de um jogo perdido fica sempre a pensar nos erros que cometeu e nas formas de ultrapassa-los e melhora-los para da próxima vez não sair humilhada. Para esta jovem guerreira o voleibol “Joga-se com a cabeça!” e quando representa Portugal, jamais se esquece de “deixar a imagem do desportista português, o guerreiro, lutador, com alma e coragem!”.

1. Como começou o teu gosto pelo Voleibol?
Joana Neto: Quando tinha apenas 7 anos os meus pais acharam que deveria integrar um grupo para me manter activa, praticar algum exercício e, também, conhecer novas pessoas e fazer amizades. Foi então que surgiu a ideia de praticar voleibol, pois para além de ter algumas facilidades uma vez que vivia perto do pavilhão onde treinava, era um desporto que me agradava por exigir muita competição e por ser colectivo. Integrei a equipa do Leixões Sport Club e desde então que nunca mais deixei de praticar voleibol.

2. Jogas voleibol indoor há 10 anos. Que momentos tanto positivos como negativos trazes sempre contigo?
Joana Neto: Ao longo destes 10 anos tive experiências muito positivas. Não falo apenas dos títulos de campeã nacional que neste momento são quatro, um pelo Clube Desportivo e Cultural de Gueifães e os outros três pelo Leixões Sport Club, mas também dos momentos de convívio em torneios, nos jogos, nos treinos. Um outro momento que jamais vou esquecer, esse sim um grande passo na minha carreira desportiva, foi a chamada para a Selecção Nacional de Cadetes em 2005, tinha eu apenas 12 anos. Desde então faço parte dos trabalhos da selecção, tendo já participado em cncocompetições internacionais (Hungria, Estónia, Turquia, Suíça, Bulgária).
Momentos negativos estão sempre presentes também, contudo com tantas experiências boas eles acabam por passar despercebidos. Por isso, não tenho nenhum momento mau que me tenha marcado.

3. A uma dada altura no ano de 2006, foste convidada para entrar numa etapa do circuito nacional sénior. Como e porque razão achas que surgiu esse convite?
Joana Neto: Quando o convite surgiu eu confesso que fiquei um tanto surpreendida. Mas muito mais que isso, entusiasmada, não só porque mantinha uma boa relação com a minha treinadora mas também porque voleibol de praia era um desporto que eu apreciava e tinha alguma curiosidade em experimentar. O convite penso que teve como objectivo passar bons momentos e também transmitir-me o “bichinho” do voleibol de praia.

4. Ficaste com esse bichinho do volei de praia bem preso a ti?
Joana Neto: Tanto fiquei que nos anos seguintes continuei a participar em novas etapas. Integrei entretanto os centros de treino de alto nível para o voleibol de praia da federação portuguesa de voleibol e foi aí que comecei a levar este desporto mais a sério. A federação organizou algumas competições nas quais tive oportunidade de participar, 2 campeonatos da Europa de sub-18 e 1 mundial de sub-19, e isto foi contribuindo cada vez mais para a minha paixão por este desporto.

5. Representas também o Clube Desportivo e Cultural em Gueifães – Maia. Esta época, 2009/2010 a tua equipa sagrou-se campeã nacional de júnior. Ao fim de um ano de trabalho esta é a maior recompensa que uma atleta pode ter?
Joana Neto: Sem dúvida que quando uma equipa tem todas as condições reunidas para obter bons resultados e tem outros adversários competentes, sabe bem trabalhar toda a época para no fim receber o título de campeã nacional. Este ano foi mais uma vez um ano de muito trabalho, muito empenho, muito esforço, não tivemos nenhuma derrota mas tivemos jogos muito bem disputados e deu-me um certo gozo chegar ao fim e ter uma medalha ao peito!

6. E quando se tem o infortúnio de ser vencido?
Joana Neto: Já passei várias vezes por essas experiências, tanto em jogos a meio de época como em finais. É sempre frustrante ser vencido, mas por outro lado é mais uma forma de me motivar para trabalhar, para ser melhor que os outros. Depois de um jogo perdido fico sempre a pensar nos erros cometidos e formas de ultrapassar e melhorar para da próxima vez não sair humilhada e mostrar que acreditando e querendo tudo se consegue. O Voleibol joga-se com a cabeça!

7. No passado dia nove, juntamente com a tua parceira (Mariana Alexandre) foste vice-campeã da Europa sub-18 na tua modalidade. Este foi um êxito inédito no sector feminino português conseguido no Porto. Como te sentiste ao estar no pódio?
Joana Neto: Sensação absolutamente fantástica, não só pelo feito histórico mas por estar a jogar no meu país e conhecer grande parte das pessoas que estão nas bancadas com sorrisos e a bater palmas quando subi ao pódio. Cheguei mesmo a chorar quando vi a bandeira de Portugal a ser hasteada. Espero voltar a ter esta sensação, é inexplicável.

8. Qual é a sensação de representar Portugal?
Joana Neto: Representar Portugal é acima de qualquer coisa um orgulho. Qualquer desportista deseja poder elevar e dignificar o nome de Portugal. Quando represento o meu país procuro dar tudo o que e o que não tenho. Posso não ter as mesmas condições de trabalho que os restantes países têm, mas procuro sempre deixar a imagem do desportista português, o guerreiro, lutador, com alma e coragem!

9. Sentes que este é o momento mais alto do teu percurso desportivo?
Joana Neto: Este foi sem dúvida o melhor até ao momento. Mas não me sinto satisfeita por chegar até aqui. Quero sempre mais e mais. Vou continuar a trabalhar para obter bons resultados e quem sabe, da próxima vez, alcançar o ouro.

10. O ouro… um sonho ou um objectivo por concretizar?
Joana Neto: É um sonho e um objectivo. Ser o número um é a melhor sensação do mundo. Eu trabalho a pensar que quero ser melhor que os outros, os outros chegam lá e eu não, então tenho que trabalhar mais para ser melhor que eles.

11. A partir de agora esse é um momento que pretendes viver mais vezes?
Joana Neto: Claro que sim. Subir ao pódio deu-me um prazer imenso e como já disse, vou continuar a trabalhar duro para poder mais vezes levar Portugal aos primeiros degraus. Nunca nos devemos sentir satisfeitos pelo que já fizemos. O objectivo é evoluir sempre mais.

12. Tudo isto traz mais mediatismo a tua volta. Como é viver com tudo isso?
Joana Neto: É uma boa sensação! “Parabéns” talvez tenha sido a palavra mais proferida pelas pessoas que me rodeiam nos últimos dias. É bom de facto, é recompensador, é um reconhecimento do nosso trabalho, mas é também uma responsabilidade, porque sei que para a próxima não posso deixar que ultrapassem a minha marca e tenho de trabalhar para sermos a número 1.

13. Jogar ao lado da Mariana Alexandre, como descreves a vossa dupla? Cada vez mais vocês são uma equipa?
Joana Neto: Nenhuma dupla é perfeita. Mas sem dúvida que cada vez mais somos uma equipa e isso vai-se construindo nos jogos. Jogar muito ajuda à união, ao espírito de entreajuda. Somos uma dupla com muita garra, muita determinação e muito ambiciosa que nunca se deixa abater com um mau resultado e procura sempre fazer mais, dar sempre o máximo.

14. Para além desta participação, estiveste também presente no mundial de sub 19. Como foi a experiência?
Joana Neto: Foi mais uma boa experiência na minha carreira desportiva. Penso que acima de tudo contribui para a minha preparação para o europeu de sub-18, uma vez que treinamos com duplas que têm meses, anos de preparação e melhores condições de trabalho, e com outro nível de jogo e experiência. Não entramos bem na competição mas conseguimos depois em mais 2 jogos mostrar que em Portugal está a desenvolver-se um bom trabalho e se apostarem em nós, duplas jovens, podemos dar frutos!
Esta prova deu-me mais motivação e mais vontade de trabalhar porque quero chegar ao nível dos melhores. Nesta prova muitas atletas da minha idade mostraram ter um potencial enorme e quero trabalhar para chegar ao nível delas.

15. O que ainda falta e esperas que complete o teu currículo?
Joana Neto: Vai faltar sempre alguma coisa. Não posso ficar satisfeita com o que está feito! Tenho um grande sonho que é participar nos Jogos Olímpicos. Quem sabe um dia eu tenha essa oportunidade e vou fazer por merecê-la!

16.O voleibol numa palavra ou frase…
Joana Neto: Voleibol é atitude!



17.08.2010

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Conversa com... Leonel Ribeiro

“Vai-se espantar de tão verídica e surreal que é a minha história...tudo por causa de um jogo de PC. Chamem-me doido, chamem-me maluco...mas eu sou assim e sou feliz”.

Chama-se Leonel Ribeiro, tem 33 anos e vive actualmente em Berna, Suiça. Cedo começou a jogar o famoso jogo de computador CM - Championship Manager (entretanto mudado para FM - Football Manager). Entretanto, o bichinho do kitmaking começou a pegar e actualmente é o responsável pela pesquisa e desenho das camisolas portuguesas para o jogo.



1. O Championship Manager, actualmente conhecido como FM-Football Manager, era até 2003 um jogo algo rudimentar. A partir desse ano foi então possível adicionar partes gráficas que incluíam obviamente as camisolas dos clubes. Como conseguiu ou surgiu o convite de iniciar tal laboração?
Leonel Ribeiro: Antes de mais devo dizer que o Championship e o Football Manager co-existem, seguindo cada um deles o seu caminho, mas com obvia vantagem para o FM...é neste plano que eu entro, ajudando no plano de pesquisa nacional de equipamentos e cores usadas pelas equipas de futebol...o convite foi algo que até nem se pode chamar de convite...foi depois de varias trocas de emails entre as pessoas que gerem a POP (Pesquisa Oficial Portuguesa) fiquei então em directo contacto com o Zé Chieira (chefe da POP) no qual me delegou essa função...ao fim e ao cabo, acabou por ser uma coisa natural...

2. Sempre foi um apaixonado pelos vídeos jogos. Foi por essa razão que se dedicou a tal actividade (Kitmaking)?
Leonel Ribeiro: Não diria que foi essa a razão, mas sim umas das razões. Sempre fui um apaixonado por tudo o que fosse electrónico embora não sendo um génio da informática, tenho os meus trunfos. Antigamente lá em casa sempre que o gravador de video ou a TV avariavam a minha mãe deixava-me dar uma vista de olhos antes de ir para arranjar, eram mais as vezes que estragava do que as que arranjava, mas juntamente com o amor do futebol e do facto de fazer colecção de camisolas, esta actividade acabou por mais tarde aparecer como algo natural. Embora no inicio não fosse essa a intenção. Tudo começou por ser um hobbie.

3. Penso que seja um trabalho muito minucioso. Quanto tempo demora a compor cada camisola?
Leonel Ribeiro: De facto, nós, em particular eu, tentamos ser o mais minuciosos possivel, principalmente no que toca a camisolas de equipas nacionais, quer seja uma risca, um ponto, o colar, patrocínios, emblemas ou seja tudo aquilo que um adepto pode ver numa camisola real. Nós tentamos fazer o mais aproximado possível dessa realidade. Em relação ao tempo demorado, é bastante subjectivo dizer, pois existem designs mais complicados e outros mais simples, mas no mundo globalizado em que vivemos e com a enorme concorrência de marcas desportivas que existem, nós a cada marca ou desenho feito, gravamos aquilo a que chama-mos de “template” para se no caso de uma outra equipa usar o mesmo design, então é somente ir buscar esse design e editar as cores, patrocínios e logos do clube. Assim por alto posso dizer que um design novo em media leva uns bons 30 minutos, os mais complicados até mais, quando é usado o método de “aproveitamento” do “template” então aí pode andar entre uns meros 5 a 10 minutos. Se falar-mos de uma liga inteira, pode-se demorar uns bons 5 dias, isto se tivermos todos os dados em mão, mas posso-me gabar de uma vez ter feito uma liga (campeonato de Malta – 10 equipas) em 10 horas. Mas nesse dia estava inspirado.



4. Em que consiste
e quais os parâmetros que envolvem todo o seu trabalho?
Leonel Ribeiro: Divide-se por quatro fases, a divisão, pesquisa, preparação e elaboração. A divisão, é quando temos as equipas e as dividimos pelas respectivas ligas. A pesquisa trata-se de pesquisar por todo o lado de modo a tentarmos reunir o màximo de informação relativa a essas equipas. A recolha de fotos da maior qualidade possível é essencial, mas por vezes temos que seguir o nosso instinto e “adivinhar” como é o design, pois nem sempre temos a sorte de encontr
ar toda a informação, mas no que toca ás maiores ligas mundiais, essa pesquisa acaba por ser bastante conseguida. A preparação, depois da divisão e da pesquisa, preparamos tudo para a próxima fase...essa preparação passa por uma revisão dos dois passos anteriores. Finalmente chega a elaboração, que como o nome indica, da-se inicio á elaboração das camisolas.

5. É um trabalho remunerado ou feito exclusivamente por
paixão?
Leonel Ribeiro: Remunerado? Quem me dera. Tirando mesmo os designers profissionais das grandes marcas desportivas, não conheço quem tenha alguma remuneração no que toca a este trabalho. Acaba por ser paixão mesmo.



6. A sua actividade profissional é ligada ao grafismo e design?
Leonel Ribeiro: Não, inicialmente no pós-vida escolar ainda
considerei a hipótese de tomar o caminho da informática ou do jornalismo (devido á área de estudo que frequentava), mas por vezes nem tudo corre como esperado e vi-me pouco tempo depois de ter terminado o serviço militar a emigrar para a Suiça em 1997. Ainda hoje por aqui estou…

7. Portugal tem reconhecimento que existe um “filho” português nortenho, a morar no estrangeiro encarregue por tal actividade?
Leonel Ribeiro: Ora bem, nortenho só porque tenho residência legal em Lousada. Originalmente eu costumo dizer que sou de todo o lado e de parte nenhuma, pois já foram imensas as localidades onde vivi neste nosso Portugal, isto depois dos meus pais terem regressado de M
oçambique nos anos 70, local onde nasci, mas se falar-mos de reconhecimento a nivel de foruns ou sites desportivos, acredito que si, existe algum. Nos fóruns todos conhecem o Leonel da Suiça, mas o nome com mais peso é o meu nickname – packmanch.

8. Sente esse reconhecimento de que modo?
Leonel Ribeiro: É muito bom e gratificante ler nos fóruns um simples obrigado tendo em conta que isto é feito de forma gratuita e disponibilizado para todos, então no fim quando alguém agradece, acaba por se sentir esse reconhecimento, seja em que lingua for, pois quando falo de fóruns ou sites, estamos a falar a nivel mundial.
9. Esse nome a nível de design de camisolas no mundo gráfico torna-se mais notório cá ou no mundo do FM?
Leonel Ribeiro: Obviamente que o mundo do FM é o primeiro plano, mas lentamente e devido a uma certa ambição minha, tenho vindo a estabelecer contactos com uma marca de desporto portuguesa e quem sabe se um dia não terei os meus próprios desenhos a serem usad
os por uma equipa. Aliás, existe uma equipa portuguesa de futsal (Cerveira Futsal), onde tenho mantido contacto com as suas pessoas responsáveis, onde já houve uma demonstração de no futuro eu ter alguma intervenção no desenho das suas camisolas.
10. Espera que esta entrevista lhe traga mais mediatismo, especialmente cá em Portugal? Porquê?
Leonel Ribeiro: Mediatismo... Nunca tinha visto
isso desse prisma, mas se algo de bom advir daí, não o vou regeitar, obviamente.

11. É um jogo mundialmente vendido. E por isso inserido num mundo sem fronteiras. Como design do FM sente isso? De que forma?
Leonel Ribeiro: Sim, sem margem para dúvida que a equ
ipa da Sports Interactives, através do seu mentor, Miles Jacobson, fizeram um trabalho fenómenal no que toca em quebrar barreiras, que fez com que este se torna-se num líder mundial de vendas. Eu sou testemunha disso, pois estando eu registado em variados sites/fóruns de FM, posso comprovar isso. Inclusive, basta ver a minha lista de MSN, onde são intermináveis os contactos que tenho com pessoas de todo o mundo.

12. Já fez muitos amigos?Leonel Ribeiro: Sim já, e também alguns “menos-amigos”, mas posso dizer que a lista de amigos é muito maior, sejam indonésios, brasileiros, argentinos, ingleses, din
amarqueses, inclusive ate tenho um amigo chinês mas o maior deles todos sem dúvida o português Marco Talhadas, que nos últimos 3 anos se tornou o meu braço direito, no que toca a fotos de qualidade, quando é preciso lá está ele. É como disse na pergunta anterior – isto é um mundo sem fronteiras.

13. Considera-se um génio?
Leonel Ribeiro: Não nada disso, aliás até estou muito longe disso mas aproveitando o momento sei que existe por aí quem me considera e a mim por vezes dá para encher o ego.

14. Como vê esta actividade que a certa altura lhe surge na
vida? Uma oportunidade, um reconhecimento, uma prova, uma projecção...Leonel Ribeiro: Sem dúvida uma oportunidade. São daquelas decisões que podem marcar a vida de uma pessoa e influenciar o resto dela. São 7 anos que carrego nos ombros a fazer esta actividade e não me vejo a deixar isto tão cedo, embora já tenha tido várias ocasiões que já ponderei deixar isto, mas acaba por ser como uma “droga” e para já não há antídoto.Gosto do que faço.

15. Com toda a projecção que teve, acabou inclusive por assinar contrato com um estúdio inglês de vídeo jogos (Beautiful Game Studio) que na altura e ainda act
ualmente, são os rivais do Football Manager. Uma aventura que durou poucos meses. No entanto, como descreve esse tempo de contrato assinado?
Leonel Ribeiro: Foram cerca de 8 meses duros, cançativos e
estudiosos mas no fim muito gratificante, embora eu reconheça que poderia ter feito mais e melhor, pois acho que desde o inicio houve um mal estar em mim, talvez porque estava a jogar pela equipa adversária (lembre-se que eu estava nessa altura a trabalhar para o CM e não para o FM). Isto passou-se entre 2007 e 2008...

16. Entretanto o contrato esse que foi cancelado. O que esteve por de trás de tudo isso?
Leonel Ribeiro: Como disse anteriormente não me sentia bem no que estava a fazer, depois também foi numa altura que o meu filho tinha 2 anos e era uma pouco dificil conciliar tudo, familia, trabalho, hobbie. E então por minha iniciativa decidi dar por concluÍda essa ligação. Foi essencialmente por falta de tempo.

17. Foi algo que não começou como uma profissão. Gostava
de se dedicar a tempo inteiro à mesma? E porquê?Leonel Ribeiro: Não começou nem é. Tenho a minha profissão real no qual sou bastante competente mas se houvesse realmente uma forma de fazer disto profissão, não rejeitaria, pois seria o culminar de um sonho.


18. Há uma dada altura, que começa a ver em sites oficiais de clu
bes portugueses, como o Leixões e Freamunde, trabalhos feitos por si sem o sei consentimento. Actualmente no site www.zerozero.pt, o mesmo também acontece. Que sensação tal facto lhe despertou?
Leonel Ribeiro: Bem, você já provou alguma coisa quente e fria ao mesmo tempo??? Pois bem, foi e é essa a sensação que senti e sinto cada vez que isso acontece, embora nessa altura lembro-me de ter recebido um pedido de permissão de uso desses mesmos trabalhos da parte das pessoas do Freamunde (julgo que através do site dos seus adeptos FremundeAllez), mas senti um abuso de confiança por parte das pessoas que delegavam na altura o site do FC Leixões (isso acon
teceu á uns 6 anos...julgo que na altura o Leixões militava na II Liga) e agora da parte de quem delega o site www.zerozero.pt inclusive, já mandei uma nota de descontentamento a esse mesmo site, sem no entanto ter recebido qualquer resposta. Obviamente não é caso de tribunal, mas um simples obrigado ou uma nota no próprio site de referência aos criadores seria de louvar. Protecção ao criador é algo que sempre defendi e irei defender.

19. O que é necessário para todos os clubes e sites interes
sados no seu trabalho, poderem usufruir do mesmo nos seus respectivos espaços?
Leonel Ribeiro: Eu nunca digo que não a nada e a ninguém. Est
a entrevista é prova disso. Estou sempre disponível em ajudar, aliás no ano passado foi até de iniciativa minha que entrei em contacto com o fórum dos adeptos do FC Penafiel (Força Rubro Negra) para eu criar os equipamentos do ano passado. O mesmo irá acontecer este ano, o que isso demonstra uma total disponibilidade e tudo na base de um simples obrigado.

20. Há algum episódio, tanto pela negativa como pela positiva que o marcam?
Leonel Ribeiro: Episódios são vários, algumas tristes o
utros mais alegres mas se rebobinar a fita atrás, lembro-me de um dia em Portugal entrar numa loja de videojogos em Aveiro e em conversa com uns indivíduos que lá estavam veio á baila o tema CM e FM. Claro que os gráficos também foram tema de conversa e então um deles diz que sabia que havia um tipo portugues que era muito bom a fazer camisolas e outras coisas para adicionar ao jogo. Eu muito curioso perguntei se por acaso o tipo em questão não seria o Leonel Ribeiro e ele disse “Ya Ya é esse mesmo, o gajo faz umas camisolas muito fixes”. Pode então imaginar o riso que foi quando me apresentei como sendo a tal personagem, o que no fundo me deu uma tremenda satisfação. Dos episódios negativos tenho por hábito, carregar na tecla “delete” do meu cérebro. Sigo em frente.

21. A sua história, é uma história por detrás de uma p
aixão? Porquê?
Leonel Ribeiro: Bem, acho que tudo o que disse até aqui é testemunho dessa paixão. Eu tenho uma frase num fórum que diz “Kitmaking is my dream” (O kitmaking é o m
eu sonho), acho que o resto é óbvio de ver. Posso mesmo afirmar que neste momento o meu filho Rui, a minha esposa Paula e o meu vício kitmaking, são mesmo as minhas paixões.
22. Numa anterior conversa em relação a essa sua
história disse-me: “vai-se espantar de tão veridica e surreal que é...tudo por causa de um jogo de PC...chamem-me doido, chamem-me maluco...mas eu sou assim e sou feliz”. Para finalizar pode-nos explicar um pouco mais esta afirmação?
Leonel Ribeiro: Sim, tem um pouco disso mesmo. Loucura ou maluqueira. Bem, acho que ambas, pois o meu pai um dia disse-me “és doido, não tens mais nada que fazer?”...mas depois de eu lhe fazer a camisola do seu Sporting, ele olhou para mim e vi algo nele que poderia ser visto como orgulho, apesar de ele não ter dito nada, senti isso. Por isso se até a própria família pensa que somos doidos ou malucos. Eu repito:”sou assim, mas sou feliz.”




13.08.2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Conversa com... Hugo Miguel


“Só nos dão valor quando dão pela nossa falta e percebem que sem árbitro não pode haver jogo”

Hugo Miguel, é árbitro profissional de futebol há 15 anos e foi promovido à primeira categoria na época 2006/2007. Soma um total de 29 jogos na Liga e 46 na II Liga. Convive em harmonia com a crítica e consegue separar a crítica construtiva daquela que é alicerçada em opiniões de fanáticos por clubes ou regionalismos bacocos.

1. Como começou a sua ligação ao mundo da arbitragem?
Hugo Miguel– Costumo dizer que já nasci árbitro, desde que me conheço que estou ligado à arbitragem por influência do meu pai (entretanto falecido em 1997) que foi árbitro na 3.ª Divisão e assistente na 1.ª. Desde pequeno sempre o acompanhei nos treinos, nos jogos, nos núcleos, pelo que este tipo de ambiente nunca me foi desconhecido.

2. Foi uma decisão fácil de tomar?
Hugo Miguel – Pode parecer fácil, mas não foi. Fiz uma carreira como guarda-redes de futsal, tendo jogado num dos grandes da capital, chegando a ser Campeão Nacional em 1994/95. Na transição para sénior fui dispensado e introduziram a lei da clara probabilidade de golo. Acabei por ser expulso quatro vezes nessa época e como passei muito tempo castigado, optei por ir tirar o curso de árbitro, muito por influência de alguns colegas do meu pai.

3. Como classifica a sua promoção à primeira categoria?
Hugo Miguel – Após quatro épocas na 2.ª Divisão sempre com classificações em crescendo (23.º, 9.º e 7.º) no quarto ano a minha aposta era clara para atingir o primeiro escalão. Felizmente as coisas correram bem e acabei por ficar no 3.º posto.

4. Até chegar a esse patamar quais foram as maiores adversidades com que se deparou?
Hugo Miguel – Na arbitragem as maiores dificuldades passam-se no início da carreira. Há falta de apoio e de enquadramento a nível material, logístico e fiscal. Por isso assim que surgem as primeiras dificuldades ou um jogo menos bom, muitos jovens árbitros abandonam por ainda não se sentirem suficientemente comprometidos com a actividade.

5. Agora que já cimentou a sua posição a nível nacional, ate onde pretende chegar?
Hugo Miguel – Vou começar a 5.ª época na Liga com classificações entre o 13.º e o 16.º lugar nestes quatro anos, tendo sido notória a regularidade. Acredito que com o acumular de alguma experiência consiga alcançar posições de maior destaque.

6. Alcançar o estatuto internacional, um objectivo em mente?
Hugo Miguel – Neste momento é um sonho que nunca se poderá tornar em obsessão. Enquanto a nível regulamentar a idade me permitir vou perseguir esse objectivo, sem nunca desviar o foco da tarefa arbitrar.

7. Quais os melhores momentos da sua carreira?
Hugo Miguel – Há momentos que marcam a carreira de um árbitro. A estreia em qualquer escalão após uma promoção fica sempre registada na nossa memória. Já tive participações em Torneios Internacionais em Espanha, França e Inglaterra. Conto no currículo com duas presenças nas meias-finais da Taça de Portugal, nas últimas duas temporadas.

8. Você já deve ter passado por diversas situações engraçadas e inusitadas. Cite algumas.
Hugo Miguel – Guardo uma com especial carinho. Num jogo da 3.ª Divisão disputado em Portalegre a dada altura choquei com um jogador e perdi o apito. Entretanto os jogadores seguiram a jogada e eu fui no seu encalço. O jogo só parou após uma infracção assinalada pelo meu assistente que além da bandeira usou o apito dele. Lembro-me dos jogadores terem comentado que nunca tinham visto um assistente a apitar. Desde esse dia tenho sempre um apito suplente.

9. Portugal reconhece-lhe valor?
Hugo Miguel – Sentimo-nos reconhecidos quando integramos equipas de arbitragem portuguesas nas Competições Europeias. Em Portugal, fora de Instituições como a Liga e FPF, por vezes trata-se a arbitragem como um parente pobre do futebol, quando somos essenciais para o desenvolvimento da modalidade.

10. Como vê o estado da arbitragem em Portugal? É um espelho da crise que o país atravessa?
Hugo Miguel – Acho que a presença brilhante do Olegário Benquerença no último Mundial ajuda a perceber o valor da arbitragem portuguesa. Aliás a arbitragem conta com mais presenças nestes certames do que a própria Selecção Nacional, por isso não se pode dizer que a arbitragem está em crise.

11. É uma arbitragem no seu ponto de vista com qualidade?
Hugo Miguel – O exemplo do Olegário será a face mais visível, mas todos os nossos Internacionais são chamados pela UEFA e pela FIFA para participar nos seus jogos, há agora um grupo de novos valores que depois de adquirir alguma maturidade e experiência, poderão desenhar carreiras interessantes, pelo que estou convicto de estarmos no caminho certo.

12. Há alguma aresta a ser limada?
Hugo Miguel – Talvez a nível da captação de mais e melhores árbitros. Como sabe, há falta de árbitros em Portugal, pelo que um maior aproveitamento de jovens com potencial poderia trazer benefícios. Maior quantidade implicaria neste caso melhor qualidade.

13. Mantém boa relação com a imprensa?
Hugo Miguel – Sim, penso que convivo bem com a crítica. Consigo separar a crítica construtiva daquela que é alicerçada em opiniões de fanáticos por clubes ou regionalismos bacocos. Tento sempre aproveitar algo para melhorar, nem que seja numa perspectiva ou abordagem diferente.

14. A imprensa é a maior adversária dos árbitros em Portugal?
Hugo Miguel - Talvez a televisão seja a maior adversária. Contra factos não há argumentos, é uma luta desigual dos árbitros contra as câmaras. Estamos próximos do limiar máximo de aproveitamento, mas haverá sempre outro ângulo a captar uma imagem diferente da que nós vimos. Depois os erros são escalpelizados em programas que não trazem valor acrescentado ao futebol.

15. Todo o árbitro devia seguir a velha máxima “quem não deve não teme”?
Hugo Miguel – A integridade tem de ser um factor moral intrínseco ao próprio árbitro. O árbitro que se deixar condicionar não terá as melhores condições para desempenhar a sua função. A neutralidade e equidistância deverão estar sempre presentes. A linha que delimita determinadas posturas da arrogância, por vezes pode parecer muito ténue, há que ter algum cuidado.

16. No fim de um jogo, o árbitro certamente faz um apanhado de tudo que se passou. Quando detecta que errou mesmo. O que faz e o que sente?
Hugo Miguel – A sensação de errar é das piores que se pode ter. Sentimos que inadvertidamente podemos ter influenciado um jogo, uma prova, a carreira de um jogador ou de um treinador. No fim do jogo fazemos um “flash-back” do que aconteceu, além de termos a possibilidade de ver os vídeos dos jogos numa perspectiva crítica e de melhoria. Em certos jogos acontece aquilo que nós chamamos “segunda vaga dos protestos”. Após um lance acontecem os protestos normais. Depois e nos casos dos jogos televisionados vem uma segunda vaga de assobios, quando alguém duma rádio ou da televisão emitiu uma opinião diferente da nossa. Aqui temos de fazer um grande esforço para não nos deixarmos afectar, até porque a razão pode ainda estar do nosso lado.

17. Na sua actuação o árbitro também tem receios ou abstrai-se deles dentro das quatro linhas?
Hugo Miguel – Amigos e familiares que foram a muitos jogos nos escalões mais baixos, ficavam impressionados quando lhes confessava que não os tinha visto no recinto, tal a focalização que impunha na tarefa. Por isso, posso ter passado situações em que não tive consciência do perigo para a integridade física, mas a parte mental tem de ser mais forte para sobrepor-se a todas essas situações.

18. A arbitragem já lhe trouxe inimigos?
Hugo Miguel – Há muitos anos, ainda no Distrital, um jogador disse que me matava após a exibição do cartão vermelho. Na época seguinte tornei a arbitrá-lo e no fim do jogo perguntei-lhe se ainda tinha o mesmo tipo de sentimentos. Ele disse que não, que era futebol, que já lhe tinha passado. Serve para exemplificar que os desabafos ou o que se diz a quente não tem a ver com a realidade. Mais do que tudo, o que guardo são as boas relações e as amizades que espero que venham a perdurar no futuro, sobretudo com os meus colegas de actividade.

19. Os árbitros são o elo mais fraco da cadeia futebolística?
Hugo Miguel – Há quem queira ver as coisas por esse prisma, só nos dão valor quando dão pela nossa falta e percebem que sem árbitro não pode haver jogo. Hoje em dia com a evolução natural dos tempos e da sociedade, já se percebeu que os árbitros são seres pensantes e devem encarados como parceiros.

20. Qual a regra mais difícil de aplicar na hora do jogo?
Hugo Miguel – Objectivamente a lei de mais difícil aplicação é a do fora-de-jogo. O trabalho dos árbitros assistentes é complicadíssimo na análise da posição, momento do passe, movimento da bola e dos jogadores, interferência ou influência na acção dos adversários. Para os árbitros ficam as outras leis, sua interpretação, aplicação e gestão emocional. Aqui entra em campo a regra do bom senso, procurando ser sempre consistente na aplicação dos critérios.

21. Decidiu ser árbitro de futebol. Voltando atrás, voltaria a tomar essa decisão?
Hugo Miguel – É óbvio que sim. Não me arrependo um segundo que seja. Se tivesse seguido a carreira de jogador de futsal estaria nesta altura a terminar, como estão os companheiros da minha geração. Na arbitragem em condições normais tenho mais 13 anos pela frente, a pisar os melhores palcos, inserido num fenómeno que adoro, que me faz vibrar. Espero aproveitar cada jogo e cada momento para desfrutar e compensar a ausência da minha família, essa sim a principal sacrificada com esta actividade. Eles sofrem muito por mim.




09.08.2010

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Conversa com... Vítor Dias

“O dorsal no peito não me dá particular gozo e muito menos a posição classificativa obtida no final”.

É maratonista, e diz que a hoje a corrida já faz parte da sua vida, tal como qualquer tarefa quotidiana. São três, os anos de corrida. Equivale isto a 7700 Km percorridos. Cinco foram também as maratonas em que participou, sendo quatro delas no estrangeiro. Para si todo o esforço é compensador, pois “se o corpo se recente a nossa auto-estima eleva-se ao mais alto nível.


1. Como começou o gosto pela corrida?
Vítor Dias: Sempre pratiquei desporto (futebol, futebol de salão e halterofilismo) ao longo da minha vida. A corrida funcionou sempre como desporto complementar a estas actividades, pelo que fui ganhando o gosto até que em Agosto de 2007, houve o “clique” que eu acho que faltava. Em boa hora ele aconteceu. Hoje a corrida faz parte da minha vida como qualquer tarefa quotidiana como tomar banho, comer ou dormir.

2. Considera-o como um vício saudável?
Vítor Dias: Qualquer actividade física pode ser saudável desde que praticada com cuidado, tendo sempre em atenção o tipo de actividade, a idade e carga implementada. Há processos químicos que nos viciam na corrida ou em qualquer outra actividade. São as endorfinas que se calhar não existem por acaso. Quem sabe as mesmas existam precisamente para que nos mantenhamos sempre com a vontade de sermos activamente praticantes, salvaguardando dessa forma o nosso bem estar físico e psíquico.

3. Em que provas já participou?
Vítor Dias: Normalmente não participo em muitas provas comparativamente com os meus colegas (3 em 2007, 15 em 2008, 9 em 2009 e 7 em 2010). O dorsal no peito não me dá particular gozo e muito menos a posição classificativa obtida no final. Costumo dizer que as provas para mim são como que treinos só que mais participativos. Mesmo assim gosto bastante das provas ditas populares (Porto, Gaia, Viana do Castelo, Ovar, Régua, Cortegaça, etc.) e participei nas maratonas do Porto, Paris, Berlim, Sevilha e Madrid.

4. Qual a conquista que mais regozijo lhe deu?
Vítor Dias: Terminar a minha primeira maratona na minha cidade em Outubro de 2007. Um ano antes eu não conseguia correr 10 Kms. Correr uma maratona nem sequer era um sonho para mim, nem mesmo uma miragem. Há 4 anos atrás eu pensava que correr ininterruptamente 42,195 metros era tão provável como ir à lua. Hoje acho que qualquer pessoa, mesmo que tenha 70 anos e que seja saudável, poderá pensar que é possível fazer esta mítica distância.

5. Há alguma que a marcou pela negativa?
Vítor Dias: Não propriamente negativa pois terminei todas as que menos me propus (é sempre esse o principal objectivo) mas a última em Madrid, dada a alta temperatura a que decorreu, foi a menos positiva.

6. Como se recupera depois de uma maratona?
Vítor Dias: Com aquilo a que chamamos descanso activo, ou seja fazendo treinos a uma velocidade muita baixa. Normalmente corro sempre no dia seguinte a uma maratona e faço uma visita ao meu massagista. Durante a semana pós-prova faço 2 a 3 treinos sempre muito lentos e se possível vou à piscina. É também muito importante repor os níveis de hidratação assim como ter uma alimentação rica em hidratos de carbono e proteínas.

7. Que recordações e que vivências retiras das provas no estrangeiro?
Vítor Dias: O ambiente nestas provas é quase indescritível. Referindo-me por exemplo a Paris (35.000 atletas) e a Berlim (40.000 atletas), onde estas provas já se realizam há mais de 30 anos, trata-se de um evento que mexe com toda a cidade. Nos dias anteriores à prova são mais do que evidentes os preparativos para a mesma. As pessoas abordam-nos na rua, desejando coragem e boa sorte. No dia da prova, no metro, no comboio ou em qualquer outro meio que leve os atletas à prova, as conversas entre corredores de outros países desenrolam-se como se já nos conhecêssemos há muito tempo. Não há espírito de competição, há sim o de cooperação, com vista á realização pessoal. Aconselho todos os que gostam de correr esta distância que pelo menos uma vez na vida participem em provas como estas. Qualquer uma realizada nas capitais europeias valerá a pena, embora Paris, Berlim, Londres, Madrid e Roma sejam as que com certeza irão ficar para sempre na memória de quem nelas participar.

8. São uma mais-valia para todo o maratonista? Porquê?
Vítor Dias: Sim. Lá vive-se o ambiente de quem já corre há muitos anos. Nós estamos apenas no início. Tenho esperança que daqui a 10 ou 20 anos também já tenhamos esse hábito saudável de correr.

9. Compensa a aventura e tanto esforço?
Vítor Dias: Sim, largamente. Se o corpo se recente a nossa auto-estima eleva-se ao mais alto nível. Li uma vez um artigo de um psicólogo, penso que americano, que dizia que uma pessoa que termine uma maratona pode nunca mais ser a mesma. Ele referia-se ao alcançar de um objectivo que não é fácil de atingir e que requer grande empenhamento. Uma maratona não é o dia da prova, ela requer meses de treino. Para quem tem emprego e família, isto pode não ser fácil. Depois deste esforço todos os restantes problemas são relativizados . Na maratona como na vida, sem empenhamento e dedicação, não conseguiremos chegar ao sucesso.

10. Para além da corrida, presumo que tem uma actividade paralela. Qual?
Vítor Dias: Para além do meu trabalho como técnico de informática, estou ligado á música, mais particularmente ao universo filarmónico. Sou ex-músico, co-autor do portal bandasfilarmonicas.com e co-fundador e administrador da Banda Fórum – Filarmónica Portuguesa. Faço também parte dos órgãos sociais da equipa Porto Runners.

11. Como se consegue gerir o seu tempo?
Vítor Dias: Sendo organizado e levando todos os projectos muito a sério. Quem não corre, dá quase sempre como desculpa que não tem tempo para o fazer. Isso é falso e esconde apenas alguns maus hábitos como a preguiça ou fundamentalmente a falta de vontade. O exercício físico não é a prioridade para essas pessoas. Eu corro quase sempre 5 dias por semana e tenho mais tempo para mim do que quando não corria. Durante os treinos (principalmente de rolamentos lentos e quando corro sozinho), organizo as minhas ideias. É neles que penso o que tenho ainda para fazer e quando o vou fazer. Evito levar o telemóvel comigo pois se o fizesse, acho que algumas tarefas eram mesmo ali resolvidas. Conheço que o leve e gravadores para registar ideias ou artigos a escrever já não são novidade.

12. Onde e em quem encontra forças quando mais precisa E quando algo corre não tão bem?
Vítor Dias: Na família e nos amigos. É assim nas corridas e é assim na vida. Sem bases sólidas baseadas no amor à família e à amizade incondicional dos amigos, esta corrida da vida não faz sentido. Sinto-me um privilegiado por ter o apoio da minha família e de muitos e muitos amigos e colegas que me acompanham. A eles devo o que sou e a eles o agradeço.

13. Há erros que um corredor também comete?
Vítor Dias: Obviamente que sim. No que respeita aos principiantes, os maiores erros são o iniciar sem consultar um médico e o uso de calçado inadequado. Nos mais experimentados (refiro-me sempre a atletas de pelotão que correm sem objectivo competitivo, o colocar a fasquia demasiado alta, o treinar demasiado e participar em muitas provas, podem provocar lesões muitas das vezes difíceis de debelar.

14. Qual é para si o mais grave?
Vítor Dias: Para quem é viciado em corrida o pior de tudo é lesionar-se e ficar semanas ou meses parado. Dizem-nos que em caso de paragem prolongada somos difíceis de aturar…

15. O que é que um corredor de pelotão mais procura?
Vítor Dias: Procura aquilo que todos ansiamos. A felicidade e o prazer. Uns fazem-no a pescar, outros a jogar bilhar, outros a comer, outros a beber, outros a viajar. Nós alcançamos esse bem estar e felicidade correndo.

16. Correr mais que um prazer é um modo de estar na vida?
Vítor Dias: Sim. Não há corredor de pelotão em Portugal que passe despercebido no seu rol de amigos ou colegas de trabalho. Era bom que assim não fosse. Quando todos corrermos, um corredor tornar-se-á vulgar e todos ficaremos a ganhar. Como se costuma dizer, “só encontraremos o médico quando formos velhos e mesmo assim será no campo de golfe”.

17. O que lhe falta ainda conquistar e que objectivos ainda o seguram à corrida?
Vítor Dias: Não sou obcecado por objectivos embora ache essencial eles existirem. Depois de ter corrido a Maratona de Berlim, gostaria de correr as restantes 4 maratonas que fazem parte da World Marathon Mayors (Boston, Nova York, Chicago e Londres) e a Maratona da Grande Muralha da China. São patamares dependentes mais da parte financeira do que de qualquer outro factor.

18. Correr não farta?
Vítor Dias: Quando não me apetece correr não corro. Correr não pode ser um fardo. Faço no entanto o meu “reset” anual de cerca de 15 dias entre Novembro e Dezembro.

19. E quanto à alimentação, há muitos cuidados que tem de manter?
Vítor Dias: Não cumpro como deveria de cumprir mas diga-se que também não é estritamente necessário. As pessoas têm uma ideia de que somos uns infelizes nesta matéria. Somos amadores e se comer nos dá prazer devemos fazê-lo. Quando temos provas para mais longe, é muito curioso ver colegas a combinarem onde vão comer um cabritinho, um cozido ou uma cabidela. Os corredores são grandes conhecedores do nosso património gastronómico. As corridas são muitas vezes pretextos para grandes almoçaradas. Não devemos deixar que seja a corrida a alterar os nosso hábitos. Claro que deveremos ter em conta o que toda a gente tem de ter, evitar gorduras, álcool, fritos, etc. O algum cuidado do maratonista poderá surgir normalmente a uma ou duas semanas antes da prova onde a ingestão de hidratos de carbono (normalmente sob a forma de massas) se torna habitual.

20. É director de um site, no qual pretende enaltecer e dar a conhecer aqueles corredores que tal como diz “as classificações pouco dizem e que o seu único objectivo é tirar o maior prazer da corrida”. Como surgiu o projecto?
Vítor Dias: Quando cheguei às corridas, comecei a “devorar” tudo o quanto era leitura relacionada com a mesma. Comprei livros estrangeiros e passei horas e dias a ler blogs de corrida. Quando resolvi criar o meu próprio blog, a receptividade por parte da comunidade foi uma surpresa para mim, nomeadamente com o relato que fiz da minha primeira maratona. Tive colegas com idade para serem meus pais que me vieram dizer que se comoviam ao lerem os meus relatos. Sei que estou a ser pretensioso mas não resisto a dizer que isso me deixou muito orgulhoso. Penso que consegui de alguma forma transmitir em palavras aquilo que esses meus colegas sentem quando fazem o que realmente gostam que é correr. Surgiu assim o www.correrporprazer.com .
A inclusão de artigos sobre alimentação por parte da nutricionista Filipa Vicente, dos artigos de lesões por parte da Enfermeira Especialista em Reabilitação Ana Maria de Freitas e mais recentemente do podólogo Romeu Araújo, foram uma mais-valia para este projecto. Ao longo de ano e meio de existência, fomos já visitados por mais de 187.ooo pessoas.

21. O que pretende com o mesmo espaço?
Vítor Dias: Divulgar a corrida, os seus benefícios e tudo o que a ela está relacionada (provas alimentação, motivação, lesões, etc.).

22. Em Outubro de 2009, publicou em parceira o livro “Correr por Prazer – Já correu hoje? " .Fale-nos um pouco deste livro?
Vítor Dias: Surgiu no seguimento do blog e tem os mesmos objectivos que este. A ideia foi chegar a quem não tem acesso à internet. Tal como o blog, excedeu todas as nossas expectativas.

23. Foca então três assuntos de interesse actual, como a motivação, a nutrição e a prevenção de lesões. O Vitor como maratonista debruça-se sobre o tema motivação?
Vítor Dias: Sim. Não sendo especialista em nenhuma matéria em particular, relato as minhas provas, treinos e aspectos ditos vulgares mas que podem motivar as pessoas. Não há fórmulas científicas para a motivação e não há nada melhor do que falar daquilo que é fácil as pessoas compreenderem. É muito gratificante quando me dizem que participaram em determinada prova porque leram o meu relato acerca da mesma.

24. Como está a ser feedback depois do lançamento?
Vítor Dias: Estamos deveras surpreendidos com a receptividade. Houve bastante interesse por parte dos media, nomeadamente o Jornal de Notícias, a Revista Atletismo, a revista Sportlife, a Antena2 e mais recentemente a RTP. Isso ajudou-nos bastante. Neste momento está mesmo a estudar-se a possibilidade de editar o livro noutras línguas.

25. Em Portugal falta visibilidade e protagonismo aos maratonistas?
Vítor Dias: O que falta essencialmente são maratonistas e portanto maratonas. No ano de 2010 irão realizar-se 4 maratonas no nosso país (Porto, Lisboa, Faro e Porto Santo). O número de atletas que terminam cada uma destas provas é sempre inferior a um milhar, sendo uma boa parte estrangeiros.. Estima-se que existam em Portugal não mais de 700 0u 800 corredores desta distância. Teremos que esperar ainda mais alguns anos e investir nesta área tal como outros países já outrora o fizeram. As nossas entidades competentes ainda não se aperceberam dos benefícios financeiros agregados ao universo maratonístico, já para não falar noutros factores mais estruturantes.

26. O que pensa que se poderia fazer para travar tal obstáculo de reconhecimento?
Vítor Dias: O maratonista de pelotão não pretende reconhecimento. Pretende apenas ter mais e melhores condições para correr. Que as vilas e cidades lhes ofereçam zonas verdes onde possam treinar longe da poluição e do trânsito e que as autarquias e o próprio estado colaborem no apoio a provas que promovam o exercício físico e o bem estar das populações. Muitos de nós corredores, começamos com caminhadas e fomos naturalmente evoluindo. Não queremos que as pessoas se tornem maratonistas mas que sintam o prazer de estar ao ar livre, buscando saúde e criando amigos.


27. O que diria a quem esta a pensar pegar nas sapatilhas e correr?
Vítor Dias: Que primeiramente consultem o seu médico para ver se está em condições de iniciar. Se sim, que comprem sapatilhas adequadas ao seu tipo de pé. Falem com quem sabe, não vão pelo preço ou pela cor. Desafie um amigo que também se queira iniciar. Comece por alternar a corrida com caminhada. Não tente evoluir rápido. É mais importante manter constante o número de treinos do que fazer mais tempo ou mais distância. Tente entrar para um clube de corrida (diferente de um clube de atletismo), há vários no nosso país. Em pouco tempo irá ver o quanto a corrida mudará a sua vida.




06.08.2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Conversa com... Zé Eduardo


Começou a jogar futebol num clube de bairro. Cedo se foram apercebendo do seu talento e começou a brilhar de dragão ao peito. Clube onde esteve durante doze anos. E até fez parte do plantel sénior na época 2001/2002. Depois disso defendeu as cores do Portimonense, Pampilhosa, Desportivo das Aves, Hapoel Jerusalém e por último em Penafiel ao serviço dos rubros negros. Actualmente não está vinculado a nenhum clube, integra o Sindicato de jogadores que no seu entender é uma mais-valia para manter a sua forma física. Zé Eduardo é um guarda-redes que nesta fase da carreira sente “que é mesmo preciso ter alma de anjo para lidar com as decepções de forma calma e equilibrada. Coração de leão, porque realmente tenho que ser guerreiro para lutar contra as adversidades, e vida de sofrimento, não a quero para mim, por isso lutarei exaustivamente para atingir as metas a que me propus atingir”.

1. A maioria dos miúdos quer ser avançado ou extremo, porquê essa ideia de ser guarda-redes?
Zé Eduardo: Creio que pelo facto do meu pai ter sido também guarda redes. Desde cedo e mesmo jogando com amigos essa posição dava-me mais prazer e adrenalina. Claro que saber que o meu pai também o tinha sido teve a sua influência, embora ele nunca me tivesse incentivado para tal.
2. Representou durante doze anos o emblema portita. Como caracterizou os momentos lá passados?
Zé Eduardo: Sem sombra de dúvida que passei momentos inesquecíveis. Foi lá que me formei e tive a oportunidade de jogar com o meu ídolo de infância e com os craques de que tanto se fala hoje em dia. Representar o F.C. Porto era um sonho de infância que felizmente tive a oportunidade de realizar.


3. Ficar lá era um objectivo que ficou por realizar?
Zé Eduardo: Sim. Gostava de ter feito a minha carreira toda num grande clube como o Porto. Abriu-me as portas para o mundo do futebol e para a alta competição. Tive a oportunidade de defrontar grandes equipas e jogadores, era visto como o sucessor natural do Vítor Baia e tive algum reconhecimento a nível nacional e internacional. Ganhei alguns troféus quer na equipa quer a nível pessoal. Infelizmente uma lesão no ombro alterou o rumo dos acontecimentos. Naquela fase estava prestes a renovar o contrato com o clube e ao invés acabei por ser cedido ao Portimonense por uma época curiosamente no ano em que o Porto conquistou a taça UEFA. O meu contrato com o clube acabou e a minha carreira levou outros rumos. A lesão obrigou-me a uma paragem de 7 meses que foram muito prejudiciais.

4. Depois disso já esteve a jogar num clube estrangeiro (Hapoel Jerusalém) e para além da língua falada ser diferente também tem uma cultura bastante peculiar. Como foi todo ao ambiente vivido à volta da adaptação? Que diferenças encontradas?
Zé Eduardo: Antes do Hapoel Jerusalém já tinha estado na Roménia no National Bucareste. Foi logo a seguir a época no Portimonense. Fui o primeiro Português a jogar na Roménia e em Israel também. Na Roménia a adaptação foi mais complicada. O ambiente no balneário era muito pesado e não existia camaradagem para com os estrangeiros. A juntar a isso estive 6 meses sem receber salário e rescindi contrato. A experiencia em Israel foi muito positiva. Fui muito bem recebido e vivi momentos muito bons nos 2 anos e meio que estive ao serviço do clube.

5. O que se tornou mais difícil?
Zé Eduardo: Nada foi muito complicado à excepção do primeiro jogo que fiz. Cheguei uma quarta feira ao país e joguei logo a titular no primeiro jogo da época no sábado. Não sabia o nome dos meus colegas de equipa praticamente e a comunicação estava complicada. Lembro-me que nesse jogo falei inglês, espanhol e no desespero cheguei a soltar uns insultos em português. A comunicação entre um guarda redes e os defesas e de extrema importância e nesse jogo senti uma incapacidade enorme nesse aspecto. Posteriormente foi-se tornando mais fácil. Hoje em dia quando me recordo desse jogo fico sempre com vontade de rir. Felizmente correu bem e ganhamos 1-0.

6. Tal como a própria cultura, as personalidades com que lidava também seriam certamente diferentes. Elas não foram impedimento para o estabelecimento de boas relações?
Zé Eduardo: De forma alguma. Em Israel existe uma cultura muito ocidental. Os judeus são pessoas muito abertas e que recebem muito bem. Existe uma imagem negativa em relação aos pais e às pessoas que o habitam, mas em nada corresponde a verdade. É a minha segunda pátria. Adoro aquele país.

7. E as relações com a massa associativa?
Zé Eduardo: Eram perfeitas. Tinham uma música dedicada a mim e a claque transportava sempre uma bandeira de Portugal. Sempre que entrava em campo para o aquecimento cantavam aquela música e agitavam a bandeira. Era conhecido pelo Barthez português, apenas pela cabeça rapada e talvez pela estatura e estilo de jogo. No último jogo que fiz pelo clube ofereceram-me um ramo de flores e fizeram uma pequena festa de despedida num bar.

8. Esteve lá duas épocas e meia. O que o fez sair de lá?
Zé Eduardo: O desejo de regressar a Portugal para jogar na primeira liga. O Desportivo das Aves já me tinha abordado no Verão e depois concretizou-se na época de transferências em Dezembro.


9. Para além destes clubes, representou clubes portugueses como o Portimonense, Pampilhosa, Desportivo das Aves. Até que chegou a Penafiel. Como foram as duas épocas lá passadas?
Zé Eduardo: Considero bastante positivas, tendo em conta que os objectivos pessoais e da equipa foram sempre alcançados. Consegui ser sempre titular, tive uma subida de divisão e uma permanência muito importante para o clube, ou seja, faço parte de duas épocas positivas em que os objectivos foram alcançados. Penso porem que na época transacta com mais calma tínhamos qualidade para lutar por outros patamares.

10. Esteve presente num dos momentos mais delicados do clube, refiro-me à luta pela subida de divisão. Todos sabemos que a massa associativa penafidelense é muito exigente e impaciente. Como encara um jogador num momento de pressão como este da subida, todas essas atitudes?
Zé Eduardo: A exigência é boa e cria uma pressão positiva. Acho que fizemos parte de um fenómeno interessante no futebol. Essa equipa tinha carácter e um grande líder, o mister Rui Quinta e restante equipa técnica. Recordo-me que no inicio de época ninguém acreditava em nós e na parte final já existia uma claque que foi sempre apoiando e chegamos a bater recordes nas deslocações de adeptos a jogos fora de casa. Nós atletas sabemos de antemão que não agradamos a gregos e troianos e que temos sempre que viver sobre pressão. No final tudo correu bem e penso que esse extraordinário grupo de trabalho foi pioneiro na criação de uma empatia muito positiva entre adeptos e atletas no F C Penafiel.

11. Na baliza do clube rubro negro passou por um momento que talvez recorde para sempre. Refiro-me ao jogo da Taça de Portugal no Estádio da Luz. É mesmo um momento para nuca esquecer? Porquê?
Zé Eduardo: Foi sem dúvida um grande jogo por parte da equipa, em que também tive a oportunidade de estar em bom plano. Não foi a exibição mais difícil da minha carreira, tive muitos jogos com grau de dificuldade idêntica ou ate superior mas é claro que contra o Benfica e dadas as circunstâncias teve um impacto maior. Fomos guerreiros nesse jogo e todos nos saímos de cabeça erguida apesar da derrota nas grandes penalidades.

12. Sente que brilhou no palco encarnado?
Zé Eduardo: Não vou ser falso humilde e falar apenas do grupo. Sinto que tive uma excelente prestação nesse jogo, mas como referi anteriormente tenho muitos outros jogos para recordar de igual maneira, mesmo ao serviço do F.C. Penafiel.

13. Qual a maior dificuldade que um guarda-redes encontra ao longo da época e até mesmo nos dias dos jogos?
Zé Eduardo: Penso que é um posto muito específico e a maior dificuldade é para o guarda redes que não esta a ser utilizado. Por norma tem que esperar por uma série de jogos maus ou de uma lesão do titular para poder entrar na equipa. Não e fácil estar na posição de suplente porque sabemos que as hipóteses de entrar são sempre mais reduzidas do que os restantes elementos do plantel. Felizmente para mim não passei por isso em Penafiel.

14. No seu entender, porque razão os guarda redes são na maioria das vezes vistos como os responsáveis e culpados pelos insucessos das suas mesmas equipas?
Zé Eduardo: Porque estamos numa posição em o mínimo erro e notado de forma mais evidente. Atraímos mais atenção até por nos equiparmos de forma diferente dos restantes elementos de campo. Mas é realmente injusto, porque no caso de derrota é muito mais criticado o guarda redes porque não defendeu a bola no lance que deu golo, que o ponta de lança que falhou de baliza aberta. Mas é algo com o qual nos habituamos a lidar e também existe o reverso da medalha. Quando somos heróis também vem a dobrar o protagonismo.

15. Guarda algum momento menos bom relacionado com a sua utilização no clube penafidelense?
Zé Eduardo: Sim mas prefiro não comentar para não ferir susceptibilidades.

16. Como se contorna um momento de menos utilização?
Zé Eduardo: Mantendo sempre a personalidade e a forma de trabalhar de forma a estar preparado no momento em que for chamado á equipa.

17. A saída do mister Bruno Cardoso e a entrada do técnico Lázaro Oliveira, uma lufada de ar fresco para o clube?
Zé Eduardo: É sempre um tema algo buliçoso e difícil de abordar. Penso que a equipa foi crescendo naturalmente com o decorrer da época e acabou por fazer uma parte final de campeonato em excelente nível. Os maus resultados não significam incompetência por parte da equipa técnica ou jogadores. Podem existir diversos factores por trás de tudo isso. A permanência da equipa deve-se ao trabalho desenvolvido por ambos.

18. O que esteve na base da sua saída do FCPenafiel?
Zé Eduardo: Com tudo o que me foi dito por parte das pessoas responsáveis, ainda hoje não consigo entender.

19. A sua saída do FCPenafiel foi realizada em pleno ou sente algum tipo de mágoa e injustiça?
Zé Eduardo: Sinto de certa forma injustiça. Fui sempre muito profissional no clube. Vivi intensamente e honrei a camisola do Penafiel. Respeitei e dediquei-me de corpo e alma, penso que merecia mais consideração na hora da saída. Não e normal um guarda redes que faz duas épocas a titular num clube sair desta forma. Ainda hoje muitas pessoas ficam estupefactas quando digo que não fiquei em Penafiel. Nunca deixei de ambicionar mais e melhor para a minha carreira. Gostava e gosto muito do clube, mas como todos os jogadores no mundo existindo uma oportunidade de melhorar na perspectiva desportiva e financeira não iria recusar, contudo isto não quero dizer que não ficaria de bom agrado no Penafiel, mas apenas que queria mais e isso é um sentimento legítimo e que em nada desonra o clube. Como tal na época passada quando me ofereceram renovação do contrato decidi assinar apenas por uma época quando me foi proposto um contrato de 2/3 anos. Não me arrependo mas também não me parece normal o guarda redes titular 2 épocas num clube sair e ficarem dois que pouco foram utilizados, isto sem querer por em causa as qualidades dos mesmos. Quer o Tiago, quer o Willian são dois excelentes profissionais e bons amigos.

20. Conseguiu desfrutar de todos os momentos?
Zé Eduardo: Sim. Como disse vivi intensamente o clube e lutei com corpo e alma pela causa Penafiel. Sinto-me de consciência tranquila e sei que o meu valor quer como atleta e humano é reconhecido pelos meus colegas e staff do clube.

21. Fez muitos laços de amizade que se possa dizer que ficam para a vida?
Zé Eduardo: Sim. Fiz bastantes amigos quer no clube quer na cidade. Penso que serei sempre bem recebido por aí.

22. Em Maio deste ano falou-se que era um potencial reforço para a equipa do Mar (Leixões). Alguma verdade nisto?
Zé Eduardo: Sim. Existiu uma abordagem, que depois não se completou por motivos que desconheço. O futebol hoje em dia é negócio e por vezes não chega o valor como atleta. Temos que fazer parte de um jogo de interesses que está a arruinar a beleza e qualidade deste desporto.

23. Agradava-o este convite?
Zé Eduardo: Claro. O Leixões é um clube com muita história e mística no panorama desportivo nacional. Para além do mais tem um projecto ambicioso que torna ainda mais aliciante.

24. Depois de um bom currículo, como se sente ao estar sem clube?
Zé Eduardo: Sinto neste momento alguma frustração e ansiedade. Já tive propostas oriundas do estrangeiro que resolvi não aceitar e em Portugal também algumas que não me convenceram. Infelizmente com tudo isto o leque de opções esta bastante reduzido e provavelmente terei que fazer uma opção de recurso.


25. Representar o Sindicato de jogadores é uma frustração?
Zé Eduardo: É acima de tudo uma forma de não estar inactivo. Frustração é não atingir os patamares que ambicionamos, mas trabalhar com o sindicato não e motivo para vergonha ou frustração. Em abono da verdade é muito bom termos a oportunidade de nos mantermos em competição e de certa forma os ritmos competitivos, por esse motivo só posso dizer que estou muito satisfeito com o trabalho que o sindicato está a desenvolver.


26. As suas qualidades irão se manter todas em tacto ou isso pode prejudicá-lo?
Zé Eduardo: Estando activo mesmo sendo no sindicato as minhas qualidades estarão salvaguardadas felizmente. Não fora o sindicato poderia precisar de mais algum tempo para as recuperar.

27. Considera que está a passar por uma fase mais descendente na sua carreira?
Zé Eduardo: Sinto que por tudo que fiz ate agora poderia estar noutro patamar, mas não terei vergonha de dar novamente um passo atrás se necessário para lutar por patamares mais elevados. Confio em pleno nos meus recursos e potencial e sinto-me mais maduro e capaz de dar respostas positivas em campo.

28. O que pensa então fazer daqui para a frente?
Zé Eduardo: Neste momento e atendendo a realidade da carreira de futebolista ser curta, pretendo tirar um curso superior e preparar o meu futuro. Não penso em cortar radicalmente com o futebol, até porque foi um investimento da minha vida e uma paixão de sempre.

29. Há uma frase celebre que diz, “ser Guarda Redes é, evidentemente, uma maneira de se diferenciar dos restantes”. Sente que se distingue dos demais?
Zé Eduardo: Realmente somos diferentes dentro de campo. Equipamos de forma diferente dos demais e temos uma área específica onde podemos utilizar as mãos, coisa que não é permitida a nenhum dos outros atletas. Não me identifico com essa frase, porque para mim ser guarda redes é paixão, é preciso ter muito espírito de sacrifício, e ser muito equilibrado emocionalmente, isto dentro das 4 linhas como é obvio. Fora delas a vida de cada um a si lhe diz respeito.

30. O papel de Guarda-redes não é tão valorizado em relação às demais posições dentro de campo?
Zé Eduardo: O papel de guarda redes é o mais importante da equipa. O guarda redes é o primeiro alicerce, é a primeira peça do puzzle. É uma posição de extrema responsabilidade. A questão da valorização passa por diversos factores. No final de um jogo por norma o comum dos adeptos pergunta o resultado e em caso de vitória que fez o golo. Só quando é inequívoco porque o guarda redes teve muito trabalho e esteve bem é que se fala disso. Em caso de vitória, especialmente, ninguém se lembra da defesa que manteve o 0-0, ou até mesmo o 1-0. Só nos lembramos do grande golo. Por incrível que pareça até os árbitros por norma são mais falados que os guarda redes.

31. Alguma vez sentiu isso e assistiu a essas atitudes?
Zé Eduardo: Várias vezes senti isso na pele. Mesmo na época transacta o senti por várias vezes. Sou muito auto-critico e sei quando erro e tenho humildade suficiente para o reconhecer. Por ser assim, não preciso que me chamem a atenção pelos meus erros, da mesma forma não lido muito bem com o elogio quando sou o melhor em campo de forma evidente. Sei decore e salteado os erros que cometi ao serviço do Penafiel e sei também as vezes que fui muito importante nos desfechos positivos, que felizmente para mim e para o clube aconteceram muito mais vezes. Reconhecido ou não pelas pessoas, o mais importante é estar de consciência que desenvolvi um excelente trabalho no clube.

32. “Ser guarda redes é ter alma de anjo, coração de leão e vida de sofrimento…”, nesta sua fase de carreira o que significa esta frase para si?
Zé Eduardo: Realmente é uma frase interessante. Nesta fase da carreira sinto que é mesmo preciso ter alma de anjo para lidar com as decepções de forma calma e equilibrada. Coração de leão, porque realmente tenho que ser guerreiro para lutar contra as adversidades, e vida de sofrimento, não a quero para mim, por isso lutarei exaustivamente para atingir as metas a que me propus atingir.




Data: 02.08.2010