1. Como foi a sua entrada para o automobilismo?
Bruno Magalhães: O meu pai ja fazia ralis e eu sempre tive essa paixão. Quando tirei a carta o meu sonho era correr e como havia nessa altura uma estrutura para o meu pai, acabei por ter a oportunidade de entrar neste mundo.
2. Conte-nos um pouco da sua trajetória nos rallys.
Bruno Magalhães: Comecei a correr de uma forma amadora mas logo com carros potentes, pois acabei por ficar com os carros do meu pai, e fiz ralis assim desde 1999 até 2002. Nessa altura liguei-me à Peugeot e em 2004 venci o troféu que tinha como prémio correr pela equipa oficial no ano seguinte. A partir daí corro nesta equipa pela qual venci 3 titulos de Campeão Nacional
3. Qual a prova que lhe fica mais na memoria? E qual aquela que mais quer esquecer?
Bruno Magalhães: Na memória a vitória deste ano nos Açores, pois foi a minha primeira vitória no IRC. Para esquecer o Rally da Madeira pela desilusão que me causou.
4. Faz dupla com Carlos Magalhães e defende as cores da Peugeot total. Como se deu a sua integração na marca de automóveis?
Bruno Magalhães: Em 2002 recebi um convite para desenvolver o futuro carro do troféu e aceitei esse desafio.
5. A dupla que faz com Carlos Magalhães. Como a caracteriza e define?
Bruno Magalhães: O Carlos é um excelente navegador, com muitos anos de competição e um grande amigo.
6. Qualquer prova de rally acaba por ser proveitosa? Porque razão?
Bruno Magalhães: Porque seja qual for o resultado aprendemos sempre alguma coisa de novo.
7. E quando a felicidade não está do nosso lado?
Bruno Magalhães: A mesma razão, por vezes nessas alturas aprendemos mais do que quando as coisas correm bem.
8. Que sentimento persiste em si quando denota problemas mecânicos no automóvel?
Bruno Magalhães: É sempre um pouco frustrante, mas com alguns anos de corridas já sei que por vezes mesmo com o máximo cuidado os problemas acontecem. Às vezes o material novo também avaria e quando assim é não há nada a fazer.
9. No passado mês de Julho, venceu o Rally Açores. Foi uma estreia a ganhar no Internacional Rally Challenge. Como viveu o momento?
Bruno Magalhães: Com muita satisfação. Foi a vitória mais importante da carreira. É um rally de cortar a respiração, apenas decidido no último troço. Realmente uma prova para mais tarde recordar, pelo resultado, pela emoção e pelo ritmo imposto.
10. Venceu a prova açoriana com 1.00,1 minutos de vantagem sobre o britânico Kris Meek (segundo classificado) e 1.20 minutos à frente do finlandês Juho Hanninen que terminou na terceira posição. Um minuto e até segundos são muitas vezes decisivo nas suas provas. Como lida com os tempos?
Bruno Magalhães: Sim, mas o rally só se decidiu no último troço. Lido com naturalidade, mas com mais satisfação quando o tempo é a meu favor.
11. Luta a todos os instantes por melhores tempos? É algo que atormenta o seu pensamento?
Bruno Magalhães: Claro que não, as corridas são isso mesmo.
12. Presumo que quando alcança bons resultados chovem-lhe telefones e mensagens de felicitação. E quando o contrário se sucede?
Bruno Magalhães: É verdade que se recebem mais quando se ganha, mas os verdadeiros amigos ligam sempre, corra bem ou mal.
13. O rally Vinho da Madeira é o seu preferido. Pode-nos explicar porque?
Bruno Magalhães: Foi o primeiro rally que fiz do nacional e fiquei logo apaixonado. Desisti no último troço com um problema mecânico e foi muito inglório, porém um rally que não esquecerei. Adoro o ambiente à volta do rally e a força que as pessoas me dão, bem como as especiais que são lindissimas. Sem duvida o meu preferido, embora não tenha muita sorte neste rally.
14. “Esta é uma prova que conheço bem, e sei que é extremamente técnica e que exige dos pilotos o seu máximo desde o primeiro metro de estrada. Não há lugar para distracções e a melhor estratégia é o ataque desde o primeiro momento”. Antes desta prova, em Agosto, foi assim que definiu esse rally. No entanto, não o consegui ganhar. O que faltou?
Bruno Magalhães: Faltou tudo menos ambição. O rally começou mal com um furo, pois toquei em qualquer coisa com a parte lateral do pneu, e logo aí perdi as chances de vencer. Estava confiante depois da vitória nos Açores, sentia que podia ganhar e o carro estava bom, mas infelizmente ainda não foi possível desta vez.
15. Por infortúnio teve de abandonar a prova devido a um depois de um violento despiste na terceira classificativa. O que aconteceu?
No final da segunda especial do dia acabamos por ter um acidente muito violento. É um troço que exige muito dos travões, em virtude de ser a descer durante muitos kms, e a verdade é que este órgão mecânico não aguentou o esforço, tendo ficado sem travagem de uma forma repentina. Com o excesso de temperatura o óleo acabou por sair das pinças de travão e, nessa altura, fiquei completamente sem hipótese de evitar a saída de estrada.
16. Os acidentes nas suas provas… Faz deles um drama? Como os encara?
Bruno Magalhães: Não faço um drama e felizmente têm sido muito poucos, já que a última vez que tinha desistido por acidente havia sido em 2003. Temos de encarar isso com naturalidade, o desporto automóvel é assim.
17. Já há muito tempo que a vitória o escapa na Madeira. Para quando essa conquista?
Bruno Magalhães: Como disse não tenho sido nada feliz neste Rally, mas acredito que um dia vou vencer esta prova, pois sabemos que é uma prova onde andamos sempre muito depressa, por isso espero que seja para o próximo ano.
18. De que maneira o rally português pode atrair a atenção dos portugueses e dos media?
Bruno Magalhães: Eu penso que atraí os espectadores, basta que haja um bom espectáculo. As provas mais importantes têm sempre muitos adeptos, o que naturalmente chama os Media. Claro que penso que a atenção de que somos alvo não é suficiente pois o nosso país vive demasiado para o futebol.
19. O rally é um mundo competitivo tal como os desportos em geral. Como se lida com essa competição? É uma competição saudável?
Bruno Magalhães: Nos rallys é mais saudável do que em outras disciplinas automobilísticas pois não existe confronto directo em pista. Cada um vai no seu minuto e faz o seu melhor, não existem situações de acidentes entre pilotos pelo que a convivência é mais saudável. Eu lido muito bem com isso, embora hajam pilotos que a partir do momento que competem directamente com outros não conseguem conviver da mesma maneira que anteriormente.
20. Enquanto piloto, como se mantêm motivado?
Bruno Magalhães: É muito fácil, basta fazer o que mais se gosta.
21. Objectivos para o futuro?
Bruno Magalhães: Continuar no IRC em 2011 para aproveitar a aprendizagem deste ano.
28.10.2010