quinta-feira, 15 de julho de 2010

Conversa com... Hugo Oliveira

É o único treinador português de guarda-redes licenciado pela FIFA, recentemente a Federação Portuguesa de Futebol convidou-o para reforçar os quadros técnicos federativos, e esteve presente na entrega de prémios da I Cup – “Sentir Penafiel”.
Apresentou e fez um hino à coragem que hoje em dia se tem em ser guarda-redes, afirmando que ser “guarda-redes é ser o anti-herói num desporto em que toda a gente só quer o golo”.
É um profissional apaixonado por aquilo que faz e a ambição, característica que também não dispensa.
Caracterizou este torneio, o qual apadrinhou, como sendo algo de “grande incentivo para todos os miúdos”, aproveitando para assegurar “que se justifica lutar pelos sonhos”.
Em todos os momentos, afirma que viveu “emoções verdadeiras” e confessou ainda que não se sente um sortudo, mas sim “sinto que trabalho para ser sortudo”.



1.Actualmente é treinador de guarda-redes, o que esteve na base dessa escolha?
Hugo Oliveira: Bom, na base da escolha teve o facto de enquanto jogador ter estado à baliza e sentir o trabalho de guarda-redes no jogo, assim como é para mim a posição em jogo mais bela no futebol.

2.Já passou pela formação de jovens guardiões e trabalhou em todos os escalões seniores do futebol português, da III Divisão à Primeira Liga. Como foram todos os momentos passados nos mesmos clubes, onde encontra diferentes temperamentos, diferentes estados de espírito e diferentes métodos?
Hugo Oliveira: Em todos eles guardo boas experiências, em todos eles guardo boas recordações, uma melhores, outras piores, mas em todos os clubes deixei amigos e tive emoções verdadeiras. Desde épocas muito boas no FC do Marco onde foi lançado aquele que é agora um dos guarda redes da Selecção Nacional, o Beto, passando por anos muito positivos no Gil Vicente, apesar das dificuldades desportivas do clube e este ano foi a subida de divisão na União de Leiria e a assinatura pela Selecção Nacional. Em todos os clubes passei momentos muito bons.

3. Como sente ao ser em várias situações do dia-a-dia ao ser anunciado como sendo o único treinador português de guarda-redes licenciado pela FIFA? Uma sensação de prestígio?
Hugo Oliveira: Bom, isso não me preocupa nem encarrega em mim um fardo muito pesado, para mim o importante é a prática e sempre os resultados desportivos. O que me deixa satisfeito mais do que esses nomes, essas licenciaturas e graduações, são os resultados dos meus guarda-redes sempre dentro de campo.

4.Recentemente a FPF convidou-o para reforçar os quadros técnicos federativos. Esta será então para si uma estreia no trabalho com a FPF. Este convite deixou surpreso? Orgulhoso? Expectante? Realizado?
Hugo Oliveira: Deixou-me com um misto de emoções muito fortes. Primeiro, muito satisfeito por se terem lembrado do meu nome e pelo trabalho que eu tenho vindo a fazer estar a ser observado. Depois, mais do que tudo acho que é a demonstração de respeito pelo trabalho dos treinadores de guarda-redes em Portugal, porque está a existir a partir de agora uma preocupação com o trabalho dos guarda-redes no jogo, que até há um tempo estava esquecido. Para mim são momentos únicos, porque representar a nação é chegar ao patamar mais alto do futebol português e tentar corresponder às expectativas que são criadas também.

5.O que sente ao servir os jogadores e a Selecção Nacional?
Hugo Oliveira: Sinto um orgulho muito grande e sinto também uma expectativa para conseguir feitos, porque passar por lá é muito fácil, agora passar por lá e deixar trabalho é o meu objectivo.

6. É um sonho já realizado?
Hugo Oliveira: É um de muitos já realizado, mas ainda muitos há para concretizar.

7.Há uma frase celebre que diz, “ser Guarda Redes é, evidentemente, uma maneira de se diferenciar dos restantes”. Sente que com todo este currículo bastíssimo que transporta consigo, se diferencia de todos os outros?
Hugo Oliveira: Não me preocupa isso, preocupa-me ser eu mesmo. Agora, também acho que não existem pessoas iguais e eu procuro ser eu próprio em todas as circunstâncias da vida, não me deixar mudar pela circunstância, crescer dia a dia e procurar vincar a minha forte personalidade.

8.Foi convidado para estar presente neste torneio e de certa forma apadrinhá-lo. Na sua opinião o mesmo poderá ser uma oportunidade para aqueles miúdos que têm talvez a ambição de alcançar o que o Hugo já alcançou?
Hugo Oliveira: Eu espero servir sempre como um exemplo positivo, mas mais do que tudo espero realçar que jogar à baliza e ser guarda-redes não é para todos, mas é belo. Espero que a minha passagem por aqui seja lutar contra aquilo que na minha opinião está acontecer no futebol português, é que hoje em dia todos os miúdos querem ser Cristianos Ronaldos, e eu quero que a partir de agora nasça a ideia de não querer jogar só na frente mas também na baliza.

9.“Ser guarda redes é ter alma de anjo, coração de leão e vida de sofrimento…”, esta seria talvez uma das muitas mensagens que tentavam transmitir a estes atletas, em especial aos guardiões das balizas?
Hugo Oliveira: Sem dúvida… Ser guarda-redes é ser o anti-herói num desporto em que toda a gente só quer o golo e a nossa missão é evitar que ele aconteça.

1o.“Os miúdos pequenos que têm muito ego querem ser guarda-redes”, como encara e explica este mesmo facto?
Hugo Oliveira: Jogar na baliza não é para todos, primeiro temos de assumir responsabilidade, dar a cara à luta e estar preparado para o sucesso e para o insucesso. Eu costumo dizer o seguinte: se todas as pessoas no seu dia-a-dia levassem tantas frustrações como o guarda-redes, muitas delas saiam do escritório todos os dias para ir para casa com uma depressão. Os guarda-redes não, vivem o guiar do sucesso e do insucesso todos os dias e são na minha opinião uns heróis.

11.Tive a oportunidade de ver o seu site “Hugo Oliveira – Redes Seguras” e numa dada altura lá dizia que “…ser guarda-redes em Portugal é ser mais vilão que herói.”, estes miúdos que aqui estão e que pretendem ser Guarda-redes vão ter no nosso país um longo e difícil caminho a percorrer?
Hugo Oliveira: Muito difícil, principalmente porque vivemos num país em que se dá mais valor aos jogadores estrangeiros que aos portugueses. No entanto, eu acho que quando a luta é forte e quando o desafio é maior, depois quando conquistamos somos mais felizes. Esse é um desafio que eu lanço, para sermos felizes na baliza temos de estar preparados para ganhar hoje, perder amanhã, mas essencialmente preparados para querer ganhar uma vida.

12.O papel de Guarda-redes não é tão valorizado em relação às demais posições dentro de campo?
Hugo Oliveira: Não, nem pensar. É preciso perceber que um avançado pode falhar quatro ou cinco golos e nunca é criticado, um guarda-redes pode falhar uma vez, deixar perder três pontos e às vezes um campeonato. Não é para todos.

13.Alguma vez sentiu isso e assistiu a essas atitudes?
Hugo Oliveira: Muitas vezes, basta ler os jornais à segunda-feira para perceber o tratamento que é dado aos jogadores de campo e ao guarda-redes

14.Sente-se um sortudo?
Hugo Oliveira: Sinto que trabalho para ser sortudo.






Data: 16.08.2009
Publicada no jornal (In)Formação do FCPenafiel no qual desempenhei funções de Directora e Jornalista.



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