terça-feira, 3 de agosto de 2010

Conversa com... Zé Eduardo


Começou a jogar futebol num clube de bairro. Cedo se foram apercebendo do seu talento e começou a brilhar de dragão ao peito. Clube onde esteve durante doze anos. E até fez parte do plantel sénior na época 2001/2002. Depois disso defendeu as cores do Portimonense, Pampilhosa, Desportivo das Aves, Hapoel Jerusalém e por último em Penafiel ao serviço dos rubros negros. Actualmente não está vinculado a nenhum clube, integra o Sindicato de jogadores que no seu entender é uma mais-valia para manter a sua forma física. Zé Eduardo é um guarda-redes que nesta fase da carreira sente “que é mesmo preciso ter alma de anjo para lidar com as decepções de forma calma e equilibrada. Coração de leão, porque realmente tenho que ser guerreiro para lutar contra as adversidades, e vida de sofrimento, não a quero para mim, por isso lutarei exaustivamente para atingir as metas a que me propus atingir”.

1. A maioria dos miúdos quer ser avançado ou extremo, porquê essa ideia de ser guarda-redes?
Zé Eduardo: Creio que pelo facto do meu pai ter sido também guarda redes. Desde cedo e mesmo jogando com amigos essa posição dava-me mais prazer e adrenalina. Claro que saber que o meu pai também o tinha sido teve a sua influência, embora ele nunca me tivesse incentivado para tal.
2. Representou durante doze anos o emblema portita. Como caracterizou os momentos lá passados?
Zé Eduardo: Sem sombra de dúvida que passei momentos inesquecíveis. Foi lá que me formei e tive a oportunidade de jogar com o meu ídolo de infância e com os craques de que tanto se fala hoje em dia. Representar o F.C. Porto era um sonho de infância que felizmente tive a oportunidade de realizar.


3. Ficar lá era um objectivo que ficou por realizar?
Zé Eduardo: Sim. Gostava de ter feito a minha carreira toda num grande clube como o Porto. Abriu-me as portas para o mundo do futebol e para a alta competição. Tive a oportunidade de defrontar grandes equipas e jogadores, era visto como o sucessor natural do Vítor Baia e tive algum reconhecimento a nível nacional e internacional. Ganhei alguns troféus quer na equipa quer a nível pessoal. Infelizmente uma lesão no ombro alterou o rumo dos acontecimentos. Naquela fase estava prestes a renovar o contrato com o clube e ao invés acabei por ser cedido ao Portimonense por uma época curiosamente no ano em que o Porto conquistou a taça UEFA. O meu contrato com o clube acabou e a minha carreira levou outros rumos. A lesão obrigou-me a uma paragem de 7 meses que foram muito prejudiciais.

4. Depois disso já esteve a jogar num clube estrangeiro (Hapoel Jerusalém) e para além da língua falada ser diferente também tem uma cultura bastante peculiar. Como foi todo ao ambiente vivido à volta da adaptação? Que diferenças encontradas?
Zé Eduardo: Antes do Hapoel Jerusalém já tinha estado na Roménia no National Bucareste. Foi logo a seguir a época no Portimonense. Fui o primeiro Português a jogar na Roménia e em Israel também. Na Roménia a adaptação foi mais complicada. O ambiente no balneário era muito pesado e não existia camaradagem para com os estrangeiros. A juntar a isso estive 6 meses sem receber salário e rescindi contrato. A experiencia em Israel foi muito positiva. Fui muito bem recebido e vivi momentos muito bons nos 2 anos e meio que estive ao serviço do clube.

5. O que se tornou mais difícil?
Zé Eduardo: Nada foi muito complicado à excepção do primeiro jogo que fiz. Cheguei uma quarta feira ao país e joguei logo a titular no primeiro jogo da época no sábado. Não sabia o nome dos meus colegas de equipa praticamente e a comunicação estava complicada. Lembro-me que nesse jogo falei inglês, espanhol e no desespero cheguei a soltar uns insultos em português. A comunicação entre um guarda redes e os defesas e de extrema importância e nesse jogo senti uma incapacidade enorme nesse aspecto. Posteriormente foi-se tornando mais fácil. Hoje em dia quando me recordo desse jogo fico sempre com vontade de rir. Felizmente correu bem e ganhamos 1-0.

6. Tal como a própria cultura, as personalidades com que lidava também seriam certamente diferentes. Elas não foram impedimento para o estabelecimento de boas relações?
Zé Eduardo: De forma alguma. Em Israel existe uma cultura muito ocidental. Os judeus são pessoas muito abertas e que recebem muito bem. Existe uma imagem negativa em relação aos pais e às pessoas que o habitam, mas em nada corresponde a verdade. É a minha segunda pátria. Adoro aquele país.

7. E as relações com a massa associativa?
Zé Eduardo: Eram perfeitas. Tinham uma música dedicada a mim e a claque transportava sempre uma bandeira de Portugal. Sempre que entrava em campo para o aquecimento cantavam aquela música e agitavam a bandeira. Era conhecido pelo Barthez português, apenas pela cabeça rapada e talvez pela estatura e estilo de jogo. No último jogo que fiz pelo clube ofereceram-me um ramo de flores e fizeram uma pequena festa de despedida num bar.

8. Esteve lá duas épocas e meia. O que o fez sair de lá?
Zé Eduardo: O desejo de regressar a Portugal para jogar na primeira liga. O Desportivo das Aves já me tinha abordado no Verão e depois concretizou-se na época de transferências em Dezembro.


9. Para além destes clubes, representou clubes portugueses como o Portimonense, Pampilhosa, Desportivo das Aves. Até que chegou a Penafiel. Como foram as duas épocas lá passadas?
Zé Eduardo: Considero bastante positivas, tendo em conta que os objectivos pessoais e da equipa foram sempre alcançados. Consegui ser sempre titular, tive uma subida de divisão e uma permanência muito importante para o clube, ou seja, faço parte de duas épocas positivas em que os objectivos foram alcançados. Penso porem que na época transacta com mais calma tínhamos qualidade para lutar por outros patamares.

10. Esteve presente num dos momentos mais delicados do clube, refiro-me à luta pela subida de divisão. Todos sabemos que a massa associativa penafidelense é muito exigente e impaciente. Como encara um jogador num momento de pressão como este da subida, todas essas atitudes?
Zé Eduardo: A exigência é boa e cria uma pressão positiva. Acho que fizemos parte de um fenómeno interessante no futebol. Essa equipa tinha carácter e um grande líder, o mister Rui Quinta e restante equipa técnica. Recordo-me que no inicio de época ninguém acreditava em nós e na parte final já existia uma claque que foi sempre apoiando e chegamos a bater recordes nas deslocações de adeptos a jogos fora de casa. Nós atletas sabemos de antemão que não agradamos a gregos e troianos e que temos sempre que viver sobre pressão. No final tudo correu bem e penso que esse extraordinário grupo de trabalho foi pioneiro na criação de uma empatia muito positiva entre adeptos e atletas no F C Penafiel.

11. Na baliza do clube rubro negro passou por um momento que talvez recorde para sempre. Refiro-me ao jogo da Taça de Portugal no Estádio da Luz. É mesmo um momento para nuca esquecer? Porquê?
Zé Eduardo: Foi sem dúvida um grande jogo por parte da equipa, em que também tive a oportunidade de estar em bom plano. Não foi a exibição mais difícil da minha carreira, tive muitos jogos com grau de dificuldade idêntica ou ate superior mas é claro que contra o Benfica e dadas as circunstâncias teve um impacto maior. Fomos guerreiros nesse jogo e todos nos saímos de cabeça erguida apesar da derrota nas grandes penalidades.

12. Sente que brilhou no palco encarnado?
Zé Eduardo: Não vou ser falso humilde e falar apenas do grupo. Sinto que tive uma excelente prestação nesse jogo, mas como referi anteriormente tenho muitos outros jogos para recordar de igual maneira, mesmo ao serviço do F.C. Penafiel.

13. Qual a maior dificuldade que um guarda-redes encontra ao longo da época e até mesmo nos dias dos jogos?
Zé Eduardo: Penso que é um posto muito específico e a maior dificuldade é para o guarda redes que não esta a ser utilizado. Por norma tem que esperar por uma série de jogos maus ou de uma lesão do titular para poder entrar na equipa. Não e fácil estar na posição de suplente porque sabemos que as hipóteses de entrar são sempre mais reduzidas do que os restantes elementos do plantel. Felizmente para mim não passei por isso em Penafiel.

14. No seu entender, porque razão os guarda redes são na maioria das vezes vistos como os responsáveis e culpados pelos insucessos das suas mesmas equipas?
Zé Eduardo: Porque estamos numa posição em o mínimo erro e notado de forma mais evidente. Atraímos mais atenção até por nos equiparmos de forma diferente dos restantes elementos de campo. Mas é realmente injusto, porque no caso de derrota é muito mais criticado o guarda redes porque não defendeu a bola no lance que deu golo, que o ponta de lança que falhou de baliza aberta. Mas é algo com o qual nos habituamos a lidar e também existe o reverso da medalha. Quando somos heróis também vem a dobrar o protagonismo.

15. Guarda algum momento menos bom relacionado com a sua utilização no clube penafidelense?
Zé Eduardo: Sim mas prefiro não comentar para não ferir susceptibilidades.

16. Como se contorna um momento de menos utilização?
Zé Eduardo: Mantendo sempre a personalidade e a forma de trabalhar de forma a estar preparado no momento em que for chamado á equipa.

17. A saída do mister Bruno Cardoso e a entrada do técnico Lázaro Oliveira, uma lufada de ar fresco para o clube?
Zé Eduardo: É sempre um tema algo buliçoso e difícil de abordar. Penso que a equipa foi crescendo naturalmente com o decorrer da época e acabou por fazer uma parte final de campeonato em excelente nível. Os maus resultados não significam incompetência por parte da equipa técnica ou jogadores. Podem existir diversos factores por trás de tudo isso. A permanência da equipa deve-se ao trabalho desenvolvido por ambos.

18. O que esteve na base da sua saída do FCPenafiel?
Zé Eduardo: Com tudo o que me foi dito por parte das pessoas responsáveis, ainda hoje não consigo entender.

19. A sua saída do FCPenafiel foi realizada em pleno ou sente algum tipo de mágoa e injustiça?
Zé Eduardo: Sinto de certa forma injustiça. Fui sempre muito profissional no clube. Vivi intensamente e honrei a camisola do Penafiel. Respeitei e dediquei-me de corpo e alma, penso que merecia mais consideração na hora da saída. Não e normal um guarda redes que faz duas épocas a titular num clube sair desta forma. Ainda hoje muitas pessoas ficam estupefactas quando digo que não fiquei em Penafiel. Nunca deixei de ambicionar mais e melhor para a minha carreira. Gostava e gosto muito do clube, mas como todos os jogadores no mundo existindo uma oportunidade de melhorar na perspectiva desportiva e financeira não iria recusar, contudo isto não quero dizer que não ficaria de bom agrado no Penafiel, mas apenas que queria mais e isso é um sentimento legítimo e que em nada desonra o clube. Como tal na época passada quando me ofereceram renovação do contrato decidi assinar apenas por uma época quando me foi proposto um contrato de 2/3 anos. Não me arrependo mas também não me parece normal o guarda redes titular 2 épocas num clube sair e ficarem dois que pouco foram utilizados, isto sem querer por em causa as qualidades dos mesmos. Quer o Tiago, quer o Willian são dois excelentes profissionais e bons amigos.

20. Conseguiu desfrutar de todos os momentos?
Zé Eduardo: Sim. Como disse vivi intensamente o clube e lutei com corpo e alma pela causa Penafiel. Sinto-me de consciência tranquila e sei que o meu valor quer como atleta e humano é reconhecido pelos meus colegas e staff do clube.

21. Fez muitos laços de amizade que se possa dizer que ficam para a vida?
Zé Eduardo: Sim. Fiz bastantes amigos quer no clube quer na cidade. Penso que serei sempre bem recebido por aí.

22. Em Maio deste ano falou-se que era um potencial reforço para a equipa do Mar (Leixões). Alguma verdade nisto?
Zé Eduardo: Sim. Existiu uma abordagem, que depois não se completou por motivos que desconheço. O futebol hoje em dia é negócio e por vezes não chega o valor como atleta. Temos que fazer parte de um jogo de interesses que está a arruinar a beleza e qualidade deste desporto.

23. Agradava-o este convite?
Zé Eduardo: Claro. O Leixões é um clube com muita história e mística no panorama desportivo nacional. Para além do mais tem um projecto ambicioso que torna ainda mais aliciante.

24. Depois de um bom currículo, como se sente ao estar sem clube?
Zé Eduardo: Sinto neste momento alguma frustração e ansiedade. Já tive propostas oriundas do estrangeiro que resolvi não aceitar e em Portugal também algumas que não me convenceram. Infelizmente com tudo isto o leque de opções esta bastante reduzido e provavelmente terei que fazer uma opção de recurso.


25. Representar o Sindicato de jogadores é uma frustração?
Zé Eduardo: É acima de tudo uma forma de não estar inactivo. Frustração é não atingir os patamares que ambicionamos, mas trabalhar com o sindicato não e motivo para vergonha ou frustração. Em abono da verdade é muito bom termos a oportunidade de nos mantermos em competição e de certa forma os ritmos competitivos, por esse motivo só posso dizer que estou muito satisfeito com o trabalho que o sindicato está a desenvolver.


26. As suas qualidades irão se manter todas em tacto ou isso pode prejudicá-lo?
Zé Eduardo: Estando activo mesmo sendo no sindicato as minhas qualidades estarão salvaguardadas felizmente. Não fora o sindicato poderia precisar de mais algum tempo para as recuperar.

27. Considera que está a passar por uma fase mais descendente na sua carreira?
Zé Eduardo: Sinto que por tudo que fiz ate agora poderia estar noutro patamar, mas não terei vergonha de dar novamente um passo atrás se necessário para lutar por patamares mais elevados. Confio em pleno nos meus recursos e potencial e sinto-me mais maduro e capaz de dar respostas positivas em campo.

28. O que pensa então fazer daqui para a frente?
Zé Eduardo: Neste momento e atendendo a realidade da carreira de futebolista ser curta, pretendo tirar um curso superior e preparar o meu futuro. Não penso em cortar radicalmente com o futebol, até porque foi um investimento da minha vida e uma paixão de sempre.

29. Há uma frase celebre que diz, “ser Guarda Redes é, evidentemente, uma maneira de se diferenciar dos restantes”. Sente que se distingue dos demais?
Zé Eduardo: Realmente somos diferentes dentro de campo. Equipamos de forma diferente dos demais e temos uma área específica onde podemos utilizar as mãos, coisa que não é permitida a nenhum dos outros atletas. Não me identifico com essa frase, porque para mim ser guarda redes é paixão, é preciso ter muito espírito de sacrifício, e ser muito equilibrado emocionalmente, isto dentro das 4 linhas como é obvio. Fora delas a vida de cada um a si lhe diz respeito.

30. O papel de Guarda-redes não é tão valorizado em relação às demais posições dentro de campo?
Zé Eduardo: O papel de guarda redes é o mais importante da equipa. O guarda redes é o primeiro alicerce, é a primeira peça do puzzle. É uma posição de extrema responsabilidade. A questão da valorização passa por diversos factores. No final de um jogo por norma o comum dos adeptos pergunta o resultado e em caso de vitória que fez o golo. Só quando é inequívoco porque o guarda redes teve muito trabalho e esteve bem é que se fala disso. Em caso de vitória, especialmente, ninguém se lembra da defesa que manteve o 0-0, ou até mesmo o 1-0. Só nos lembramos do grande golo. Por incrível que pareça até os árbitros por norma são mais falados que os guarda redes.

31. Alguma vez sentiu isso e assistiu a essas atitudes?
Zé Eduardo: Várias vezes senti isso na pele. Mesmo na época transacta o senti por várias vezes. Sou muito auto-critico e sei quando erro e tenho humildade suficiente para o reconhecer. Por ser assim, não preciso que me chamem a atenção pelos meus erros, da mesma forma não lido muito bem com o elogio quando sou o melhor em campo de forma evidente. Sei decore e salteado os erros que cometi ao serviço do Penafiel e sei também as vezes que fui muito importante nos desfechos positivos, que felizmente para mim e para o clube aconteceram muito mais vezes. Reconhecido ou não pelas pessoas, o mais importante é estar de consciência que desenvolvi um excelente trabalho no clube.

32. “Ser guarda redes é ter alma de anjo, coração de leão e vida de sofrimento…”, nesta sua fase de carreira o que significa esta frase para si?
Zé Eduardo: Realmente é uma frase interessante. Nesta fase da carreira sinto que é mesmo preciso ter alma de anjo para lidar com as decepções de forma calma e equilibrada. Coração de leão, porque realmente tenho que ser guerreiro para lutar contra as adversidades, e vida de sofrimento, não a quero para mim, por isso lutarei exaustivamente para atingir as metas a que me propus atingir.




Data: 02.08.2010

3 comentários:

  1. PARABENS PELA ENTREVISTA, PARABENS ZÉ, ÉS UM GRANDE HOMEM.
    BOA SORTE PARA O FUTURO.

    PENABOYS

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  2. grande guarda-redes....excelente homem----não esqueço o convivio que tivestes com todos os PENABOYS quando fomos jogar aos AÇORES.....és dos nossos......


    força zé......PENABOYS SEMPRE

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  3. ó Zé eduardo não te esqueças que os PENABOYS na época da subida apenas reapareceram porque já existem desde 1991....

    ó zé eduardo abristes a boca demais e pedistes um exagero(euros)para ficar,pensavas que eras o melhor guarda-redes do mundo,até dizias que tinhas prpostas de mil e um clubes e depois olha o que te aconteceu....estás no desemprego....cada um tem o que merece....talvez vás para o lousada ou para o paredes...

    ó zé eduardo sabes bem porque não ficastes...porque não fostes humilde e achastes-te demasiado bom....e não tinhas a humildade para ficar e ir para o banco,porque para titular não tens perfil....e se ficasses para ficar no banco,tu não ias aceitar e ias dividir o balneário,assim fostes de vela.....

    ó zé eduardo,não és maus redes,mas também não és o melhor do mundo...tanto fazes uma grande defesa como a seguir enterras....

    ó zé eduardo....vai ter com o rui quinta(o amiguinho de todos,mas que em penafiel ninguém gosta dele)e talvez ele te ponha a jogar no caide de rei...é que ele como treinador só se for aí,porque de resto o futuro dele no mundo da bola está como o teu:ACABADO....

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